O poder, por pequeno e restrito, exercido num extremo da
linha de decisões públicas ou privadas induz sorrateiramente a atos de
corrupção, de mentiras, de subterfúgios que comumente ficam impunes. Não só um
poder ditatorial. As democracias modernas são um exemplo disso em países
desenvolvidos ou emergentes. A conjugação desses três fatores – poder,
corrupção, impunidade – cria situações de sobrevivência, reprodução e expansão
do grupo que lidera ou domina a pequena ou a grande comunidade.
Descobrir os desvios de conduta, enfrentá-los e corrigi-los
é tarefa dificultada pela tendência solidária do poder em não punir o infrator,
o corruptor e o corrompido para garantir a governabilidade. Quem se atreve a
ser fiscal, árbitro e juiz numa operação que pretenda extirpar o membro
corrompido e a eliminação da causa corruptora? Quem ousa contestar as atitudes
de leniência diante de atos de corrupção e exigir o estrito cumprimento das
normas da ética? Quem possui suficiente independência, liberdade e autoridade
para romper essa cadeia de mútua ajuda, de coesa resistência?A trama da corrupção tem, no poder e na impunidade, os fios sutis que entrelaçam pessoas, convicções, favores, benefícios manipulados por um conjunto de mentiras, negações, afirmações, protelações, negociações, desmentidos e agressões físicas. A longevidade de um grupo, no exercício do poder total ou parcial como arma decisória, traz implícita e explícita a corrupção do caráter, a mistificação da verdade, o desvio ideológico, germens corruptores que só podem multiplicar-se com a impunidade.
Este trinômio circular forma um tumor resistente que, ao longo do tempo, se não for extirpado, matará o próprio organismo que o hospedou.
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