terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

RESQUÍCIOS OU TRAÇOS CULTURAIS


Sem palavras
Os comportamentos, as atitudes e os conceitos do povo brasileiro em suas relações sociais têm resquícios de sociedade primitiva. Ou são traços estruturais atávicos que nos distinguem como cidadãos brasileiros?
Algo notável são a capacidade e a sem-cerimônia do brasileiro de não cumprir o que promete ou de simplesmente mentir. É quase impossível ter confiança na palavra dada, seja do pintor, do marceneiro, do pedreiro, do funcionário público, do vendedor, do jornaleiro da banca, do serviço de taxi, da compra pela internet, do zelador do prédio, do síndico, dos deputados e senadores, do médico, do advogado, do juiz, do presidente da república, ou da diarista, da patroa, das estatísticas do IBGE, dos misteriosos percentuais do jornalista, das previsões dos economistas da Globo.
Tirar vantagem de qualquer situação, mentir para comover, desviar centavos, milhares ou milhões com justificativas irrisórias e ridículas, prometer sabendo que não poderá cumprir naquela hora ou que não sabe fazê-lo, é nosso pão de cada dia. Um telefonema urgente, um incidente de última hora, o trânsito complicado, tarefas acumuladas, deixar para amanhã, dor de cabeça ou da coluna, o carro enguiçado aparecem como auxiliares do descumprimento.
O que acontece numa pequena obra, como refazer o telhado de um galpão, desviar o dinheiro da compra do material, retardar o término, é semelhante a um viaduto contratado e inacabado, ao superfaturamento, ao serviço malfeito e à fiscalização ineficiente. Não importa o tamanho do pedido. A resposta é igual.
Os inumeráveis fatos concretos que eu poderia relatar, você pode substituí-los com os serviços que contratou e com suas próprias promessas não cumpridas. E com as minhas.
Virá esse traço do índio fugitivo, do escravo negro, do português navegador que vai ao Oriente via Ocidente, do mouro dos desertos da África que despista o oásis, dos romanos invasores, ou nasceu aqui, ao longo de nossas praias e no verde-escuro de nossas indevassáveis florestas?
O “sim-sim” e o “não-não” da filosofia oriental não criaram raízes por aqui, nem se adaptaram às imensas dificuldades a superar e oportunidades a aproveitar. O simples sim, para nós, é pouco e o não é grande demais para nossa proverbial cordialidade.
Tudo vai dar certo, tudo acaba em sorriso ou em pizza.

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