quarta-feira, 13 de agosto de 2008

LULA NO PLANALTO

Há momentos memoráveis na história política e eleitoral de alguns países. Homens chegam ao poder embalados pelo clamor popular, freneticamente aplaudidos. Encarnam todas as virtudes do imaginário do grande povo e aos predestinados se perdoam todos os defeitos quando não transformados em méritos pessoais.
O humilde povo de Portugal ajoelhou-se reconhecido aos pés de Salazar por 40 anos. O ditador convenceu os portugueses de serem um povo humilde, pequeno, vestido de preto. Deviam viver longe da Europa e do mundo. Finalmente, alguém disse que os portugueses eram um povo humilde.
Os alemães esperavam que alguém subisse nos palanques das praças e berrasse ao quatro cantos do mundo que esse povo era o mais puro e o melhor do mundo. A loucura prosperou até apodrecer nos campos de concentração e nos fornos crematórios.
No Brasil, o pânico do comunismo aliou igreja e exército para desatar o nó do liberalismo capitalista da classe média alienada e da burguesia vendida a tudo que era estrangeiro. Também apodreceu.
Mais recentemente, dois terços da população à margem da grande economia, privados de escolas, abatidos nas longas filas dos hospitais, perambulando pela periferia de todas as cidades em busca de um lugar decente para morrer, viram um dos seus se dispor a falar por eles, com eles e como eles. Com o apoio de intelectuais, artistas e escritores, Lula seria o povo sofrido e semi-analfabeto no poder. Como a maioria dos eleitores, Lula não leu um livro em muitos anos, não concluiu o curso primário, foi uma criança fora da escola, vítima do trabalho infantil. Experimentou a fome, comeu o pão que o diabo amassou.
Ali estava o homem, o líder, o pai, o santo, o exemplo. Ao povão se uniu a esquerda de todos os matizes. Seria a vez dos pobres. Os descamisados no poder. Os ricos e o progresso se dobrariam ao poder dos pobres e analfabetos.
O Brasil pobre elegeu seu presidente.
O Brasil rico continua governado pela Bolsa de Valores e pela ciranda financeira e bancária.
Para o Brasil pobre, o microcrédito.
Para o Brasil rico, o BNDS.

04/08/2008

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