terça-feira, 5 de agosto de 2008

AS FLORES CHORAM

Faço falar as flores.
Não. Elas sempre falaram, conversaram, riram, choraram. Só agora percebo seus cochichos, seus dizeres.
Quando o fogo estalava no cerrado eu não sabia que eram seus gemidos e gritos que ouvia.
Entro no campo. Piso com cuidado e carinho para não romper os frágeis caules da Toalha-de-nossa-senhora. Busco o Cajuí de flores brancas cacheadas. Paro em frente ao Catolé, de pequena estatura e carregado de filhos.
Ouço, olho, observo. Vejo-me rodeado de tagarelas que me olham e me dizem segredos e riem. Vou mais adiante, elas continuam a falar. Volto-me a elas. Ainda me saúdam com inveja das outras flores que agora me lambem as mãos e os pés.
Salta um gafanhoto, esvoaça uma borboleta. O Pica-pau, a Saíra, o Galo-da-campina, irrequietos, caçam insetos e defendem o território de seus ninhos.
A Lagartixa verde-escura dispara por entre a grama e se esconde nos buracos da cabeça gigante de um cupim-murundu.
Apóio-me na Baraúna, abraço a Mangabeira, respiro a fragrância do campo molhado de orvalho.
Uma felicidade vegetal me invade, uma alegria fitogênica sacode-me o espírito, a paz bucólica reina sobre os montes.
A quietude rural e o sossego botânico dão-me sentido à vida.
Vou beber água na fonte azul escondida entre samambaias.

04/08/2008

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