terça-feira, 5 de agosto de 2008

BAJULADORES

Ouço entrevistas de ministros. Ora é o das Minas e Energia. Ora é o dos Transportes ou Comunicações. Ora o da Justiça. Para ser ministro, a concluir dos termos das declarações, é preciso ter nascido com a virtude da bajulação ou tê-la imprescindivelmente adquirido.
Ministros não falam por si, por suas convicções, nem quando justificam a duplicação de uma rodovia, ou anunciam a construção de uma usina hidrelétrica. O principal argumento que utilizam é a vontade do chefe, a intenção do Presidente ou Governador.
O Presidente recomendou, o Presidente me ordenou, o Presidente está preocupado com as conseqüências, o Presidente preferiu dar aumento aos professores e militares, o Presidente quer incrementar o subsídio do Bolsa Família. O Presidente, por sua vez, apela para a mãe do PAC. A senhora mãe do PAC afirma que é ordem do Presidente.
E dizem que o Presidente não sabe de nada, que não viu, que não leu.
O Presidente sabe que os bancos estão acumulando lucros fantásticos. Ao conselheiro e confidente revelou seu pensamento filosófico sobre a usura bancária: “É melhor que os bancos tenham grandes lucros do que precisar de um programa de governo para salvá-los”.
Pedro de Montemor, ao ler essa declaração, telefonou-me. Sua voz tremia na linha. Temi pelo risco de um enfarto.
− Que foi Montemor? Você está passando mal?
− Sofri um ataque de estupefação. O Estado brasileiro chegou ao ponto do não-retorno. Ou os bancos se enchem de lucros ou o governo estaria disposto a salvá-los. Salvar bancos? Por que um banco não pode quebrar?
Acalmei-o.
O Presidente sabe de tudo. Manda em todos. Ordena o que lhe parece melhor. Emprega e demite seus auxiliares porque os conhece e sabe até onde e quando possam ser-lhe úteis.
Quando ele diz que não sabe de nada é apensas um gesto de humildade nordestina, para que os aloprados pensem que sabem mais do que ele.
O Presidente é experto.
Os ministros − Montemor − continuarão dizendo que tudo é vontade do Presidente. Eles sabem que ele sabe tudo.

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