Amanhece devagarinho. Dou água
às plantas que enfeitam o parapeito da janela. Ipês-roxos e amarelos, hibisco,
samambaias que trouxe do Bosque das Borboletas Azuis, do Sítio das Neves,
pimenteira da Amazônia que Mário me deu, jacarandá e flor-de-maio. Olho para as
árvores que despertam lá fora. Assalta-me um estranho pensamento. Que me daria
maior tristeza: uma árvore derrubada, uma criança morta ou um pássaro abatido?
Que faria uma criança viva sem a água e a sombra da árvore e sem o canto do
pássaro? Que faria o pássaro sem a árvore para construir seu ninho e sem a
criança para ouvir seu canto? Que faria a árvore viva sem a tagarelice dos
pássaros e sem a criança para trepar por seus galhos? Ficaria triplamente
triste vendo a árvore derrubada, a criança morta e o pássaro abatido. E todos
os dias derrubam-se árvores, morrem crianças e abatem-se pássaros. A vida é um
constante prenúncio da morte.
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