segunda-feira, 5 de outubro de 2015

COLUNA DO EUGÊNIO III



O bem-te-vi chegou cedo para comer o pão de centeio que lhe sirvo no beiral da janela. Esse pássaro pensa, sente e tem boa memória. Relaciona-se com independência e é agradecido. Depois de servir-se, vai ao galho seco, canta obrigado, bate as asas e voa.  Temos alguma coisa em comum, um parentesco evolutivo. Afinal, viemos todos da mesma molécula. Somos parentes pelo lado feminino da vida. Percebo a importância da ecossociologia.
Uma de minhas curiosidades recentes é saber de que se alimentava nossa tataravó Lucy, há 3,2 milhões de anos. A nova estrela humana, o Naledi, mais recente, é da época do trigo mourisco. Distraí-me com esses pensamentos atávicos durante a conversa que tive com tio Sófocles. Ele me apresentou duas belas jovens tebanas de longas melenas, vestidos talares, pés descalços, que frequentavam o palácio de Creonte. Simpatizei com as duas. Percebi que tenho, alternadamente, o caráter de ambas: o legalismo de Ismena e o anarquismo independente de Antígona. Sófocles, coçando a barba, me resumiu em duas mulheres. Todo cidadão político está envolto nesse dilema: a lei ou a desobediência civil. Apaixonei-me pelas duas filhas de Édipo.

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