sábado, 3 de outubro de 2015

COLUNA do EUGÊNIO II

(Publicado no Facebook)

É nessas horas matinais, entre uma coisa e outra, que leio e escrevo. Meus 16 livros foram escritos no tempo que vai do canto do sabiá-de-peito-amarelo à deposição do desnecessário. 
A cozinha é uma das peças do apartamento que realmente me atrai. O amor, quando há, se manifesta na realização da receita. Quando conheci a mulher com quem casei, ela me revelou que não sabia cozinhar. Não se preocupe, disse-lhe, eu sei. Preparo-lhe todas as manhãs uma salada de frutas. Minhas netas insistem que eu deva abrir um restaurante. Só se for para elas que são adoráveis. 
Minhas reflexões existenciais, meus pensamentos filosóficos, meus ataques de ironia alcançam seu ápice no manejo da cebola, do alho e da pimenta. Acho que foi na cozinha que me tornei agnóstico e ateu. E foi, se não me engano, preparando uma salada apimentada de berinjela, à moda de minha mãe Agnese, que eu disse em voz alta: eu não tenho alma, eu tenho cérebro. 
E, rindo dessa descoberta, constatei que muita gente tem alma, mas pouco cérebro. Tal é a quantidade de estultícia que lota os dias, os meses e os séculos da espécie humana.
2.10.2015

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