quinta-feira, 26 de maio de 2011

SONHO DE ESCRITOR

A página literária do jornal francês Le Figaro publicou, em março de 2006, enorme título ocupando o espaço central do caderno: “Dois milhões e meio de franceses sonham ser escritores...e você”? A França possui 56 milhões de habitantes.

Não tenho informações de quantos brasileiros nutrem o mesmo sonho. Utilizando-se o percentual de sonhadores franceses (4,5%), o número de brasileiros que poderiam sonhar com ser escritores alcançaria a generosa soma virtual de aproximadamente oito milhões. Descontando, porém, a farta porção de analfabetos estruturais somados aos funcionais esse número cairia para pouco mais de três milhões.

A exemplo da Academia Brasileira de Letras, que reúne os beatificados por seus milagres literários, em todos os estados da federação existem academias, associações, sindicatos e centros literários. É comum a escritores pertencerem a duas ou três academias literárias no intuito de concretizar o sonho por meio da carteirinha que os identifica. Meus cálculos subjetivos, empíricos e por aproximação, indicam ao redor de dez mil escritores no gênero literário. Não incluo nele jornalistas e outras profissões que produzem notícias, comentários e obras científicas de distintos ramos e disciplinas ou manuais escolares. Porém, sondagens feitas em livrarias, editoras e academias literárias elevam esse número a vinte mil escritores muitos dos quais desconhecidos em sua própria cidade. Mas o número de sonhadores, segundo boas fontes, é imenso ao se contarem milhares de concursos literários anuais em escolas, bancos, empresas privadas e públicas em nosso vasto país.

Ao entrar em qualquer livraria depara-se com nomes novos, de grafias miscigenadas, grande parte jornalistas de periódicos diários e revistas importantes, estreando poesia, romances, contos com prefácios generosos e encômios exagerados. Por via das dúvidas e por ter publicado dez livros, dos quais quatro são narrativas longas (romances), ouso colocar-me entre os cem mil melhores escritores do Brasil. Estou em boa companhia ao observar que entre esses milhares estão Cristovão Tezza, João Ubaldo Ribeiro, Ana Miranda, Lia Luft, Affonso Romano de Sant’Anna.

Meu sonho, então, é estar situado, até 2050, entre os quarenta mil melhores escritores do meu país. Trata-se de um sonho que me inclui numa minoria que, de tão pequena (0,02% da população), é quase invisível. Daí se compreende porque sou um escritor desconhecido e sonhador. E não é de se espantar que um estudante universitário, da Faculdade de Letras da UnB, não saiba quem é o poeta João Carlos Taveira. Em compensação, dará detalhes sobre o futebolista Nilmar Honorato da Silva.

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