quarta-feira, 1 de junho de 2011

ACIDENTE ELEITORAL

A eleição do senhor Collor de Mello à Presidência da República, sua renúncia ao mandato não aceita pelo Congresso Nacional e sua destituição proclamada pela maioria dos deputados e senadores, ovacionada pela pátria dos caras-pintadas, não passaram de um reles acidente histórico. Assim definiu o senhor Sarney a ausência do fato histórico vivido por esse cidadão na galeria dos feitos legislativos. É de se recordar que o próprio Sarney é vítima de um desastre eleitoral. Sua eleição pelo Amapá foi o maior acidente de urna registrado na democracia brasileira.

Nossa história, segundo esse sinistrado senhor, é uma sequência de acidentes, uns mais graves que outros, uns mais felizes. A casualidade trouxe, há cinco séculos, Pedro Álvares Cabral às costas da Bahia. O sinistro napoleônico empurrou Dom João VI para a Baía da Guanabara. O azar impeliu Dom Pedro I a gritar às margens do Ipiranga que ficaria por aqui. O imprevisto terremoto político demoliu o Império e fez brotar a República. Que é Canudos senão uma eventualidade nos confins de Monte Santo, na Bahia? Que é a guerra do Paraguai senão uma ocorrência militar numa fronteira deserta do país chafurdada no pantanal? O Golpe Militar de 1964 não passou de uma contingência durante a qual deputados e senadores receberam o carimbo da inutilidade legislativa. Um incidente que durou escassas duas décadas, tempo risível nos 500 anos de história.

Os fatos históricos que as professorinhas ensinam aos pequenos idiotas das escolas primárias, agora sabemos pela interpretação do sinistrado senador Sarney, que tudo não passa de acidentes, de escorregões, de choques entre forças cegas, de quedas fatais nos buracos de nossas estradas. Agora sabemos que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal são depósitos de acidentados. O Congresso Nacional está sendo vítima de um acidente cardiovascular. Trocamos o Ato Institucional número cinco por um Acidente Institucional. O mensalão do PT, a queda do senhor José Dirceu, a prisão do Governador do DF José Roberto Arruda, os lucros imprevistos do ministro Palocci, a guerra do tráfico dos morros do Rio de Janeiro e das favelas de São Paulo compõem parte da lista de acidentes ocasionais de nossa história contemporânea.

O Brasil está paraplégico, de muletas e de cadeira de rodas, vítima de acidentes fatais e vitalícios que abarrotam as UTI’s e os centros cirúrgicos do Congresso Nacional. “Nunca antes nesse país” tudo se tornou eventual, casual, aleatório, ocasional, circunstancial e onde se negocia o azar, se ri do delíquio e se zomba do essencial.

Que falta faz um Cícero no Senado! Até quando aguentaremos calados o cinismo, a insolência, a arrogância, o despudor e a sem-vergonhice de íncubos e súcubos do Congresso Nacional portadores de esquizofrenia política e hebetismo crônico?

Pátria amada, salve, salve!

Nenhum comentário: