segunda-feira, 9 de maio de 2011

DIREITO DE AMAR


DIREITO DE AMAR

Em 2002, a editora Movimento, Porto Alegre, publicou meu romance Em nome do sangue, cujo título original era O crime do padre Belmiro. Em 2003, o romance ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura, em Porto Alegre.
Qual era o crime do jovem sacerdote Belmiro aos olhos da Cúria Romana, católica e apostólica? Ser homoafetivo e, crime dos crimes, expressar publicamente sua homossexualidade. No mosteiro,  com exercícios cotidianos, ensinaram-lhe a amar um homem, um herói, um modelo a ser copiado e reproduzido.
Foi o que fez Belmiro. Como Jesus, admirou as flores do campo e ouviu o cantar dos pássaros que não fiam nem ceifam, afagou crianças nas creches, visitou prostitutas em suas zonas restritas, cuidou de enfermos nos hospitais. Como Jesus, encontrou um discípulo a quem amou e em cujo regaço descansou a cabeça. E como Jesus, por ter amado muito, morreu assassinado.
Nesses passados dias, a alta Corte da justiça brasileira garantiu aos homoafetivos, contra a opinião de igrejas que falam em nome de Jesus, e de setores discriminatórios, os direitos de constituírem união civil a ser reconhecida pelas leis da sociedade. O veredito do Supremo Tribunal Federal não garante totalmente o respeito nem a compreensão aos homoafetivos, embora hipocritamente e com desprezo sejam tolerados.
O que me chama a atenção nessa boa vontade da alta Corte é que ainda se necessite, num país civilizado, uma legislação específica para reconhecer direitos fundamentais como a liberdade de amar. Direitos humanos e seu exercício nascem com as pessoas. Amar faz parte da natureza humana e integra o conjunto de leis naturais como as leis físicas. O equívoco fundamental das pessoas e das instituições que se arrogam o dever excepcional de orientar, dirigir e controlar a sociedade consiste em invocar leis divinas reveladas a espíritos alucinados ou condutores carismáticos. Não existem leis divinas. Existem imposições religiosas. As leis são naturais e governam as coisas e orientam o livre arbítrio das pessoas.

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