quarta-feira, 18 de maio de 2011

POR UMA VIDA MELHOR


Para estimular a leitura de livros e jornais e reduzir o complexo de analfabeto e inculto em grande parte da população brasileira, o MEC divulgou um livro escrito pela senhora Heloísa Ramos que é a cara do Brasil: Por uma vida melhor.
Parece-me que são poucos os cidadãos brasileiros que se expressam de forma primitiva e rústica, rompendo palavras e trocando a posição das letras, a escreverem e publicarem seus textos. A linguagem popular aprendida em família, na rua ou trabalho tem dimensão suficiente para compreender o que se diz ou para se fazer entender. Muitas vezes é uma linguagem em código, longe de qualquer regra gramatical.
Não consigo decifrar a razão do desejo da senhora Heloísa Ramos ao propor uma vida melhor aos que vão comprar “duas latra de tinta prá pintá as parede de fora da casa”. Ou à empregada que se inscreveu num curso de três meses e se alfabetizou “prá lê as praca de ômbus”. Ontem, estava numa farmácia e um cuidador de carros pediu ao atendente “um vrido vazio prá ponhá água”. Quanto melhoraria a vida de seu Elizeu ao trocar as “treis tauba do armário comido de cupim”? Qual será o acréscimo de melhora na vida de Teresa se sua consulta médica não pôde ser marcada em “mauço e foi adiada para abriu”? Certamente, melhora a vida de Gilson e Silveira “se nóis tivé sorte e peguemo bastante pexe”. Ou se Zé Mané conseguir, aos 52 anos, “tirar a indentidade e o titro de eleitor”.
Para comprovar a boa vontade da senhora Heloísa Ramos, saí à rua, perguntei a um número amostral de pessoas de todas as opções sexuais e simpatizantes como é que a vida poderia ser melhor. Nenhuma resposta incluiu a gramática da língua brasileira na receita de uma vida melhor. Tenho esperança de que uma vida melhor seja possível quando todos os brasileiros, de qualquer opção sexual, possam pedir ao garçom um chops e dois pastel e pagar com orgulho alegre os dez real.

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