Sou um escritor plebeu. Não pertenço à realeza literária. O séquito de príncipes e princesas passa pelas avenidas floridas, ovacionado pela plebe submissa. Os tronos estão ocupados. Os salões recobertos de espelhos de cristal refletem as imagens dos afortunados rebentos da família real. Correm os anos e as mesmas figuras repetem sua própria história. Eles mesmos são a história literária. A literatura real, a realeza literária são eles. O sangue azul das letras, das fábulas, dos versos, dos contos, dos amores, das aventuras só flui naquelas veias transparentes de prestígio e nobreza.
O poder, a força e o dinheiro estão com reis literários graças ao imposto cobrado aos leitores, iludidos de que pensamentos em forma de letras só podem emanar de poucos tronos. Um livro escrito e publicado por um rei literário enche de orgulho o súdito, sublimado com a assinatura real. O livro escrito pelo cocheiro do rei, ou pela empregada da princesa, ou pelo bobo da corte só desfila nas prateleiras e estantes de livrarias se a sorte o infiltrar na cama de algum fidalgo do palácio.
Nem por isso o livro e o escritor deixam de ser plebeus. Vieram de fora dos muros palacianos. Tem cheiro de povo, sinais de vassoura nas mãos e manchas no avental. Os escritores plebeus se reúnem em academias, associações e sindicatos literários também plebeus, formando a corte das letras da periferia e da orla dos palácios reais. O prêmio do escritor plebeu é deliciar-se com as anedotas da corte real e conceder nobreza a seus atos vulgares.
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