quarta-feira, 6 de abril de 2011

ANTES QUE SEJA TARDE

 

Há que perguntar aos amigos, como estão. Os dias passam, os anos voam e, um dia percebemos que a pergunta ficou retida.
Não podemos perguntar mais nada ao amigo que acabamos de enterrar. Que perguntar aos vivos? Uma pergunta sobre a qual eles gostariam de dar sua opinião, expressar seus sentimentos de alegria ou de tristeza, de satisfação ou indignação.
Toda pessoa tem seu gato favorito dentro dela, cuida dele, acaricia-o e poucos se lembram de perceber esse felino escondido na alma do outro. Acertar no gato escondido é um segredo próprio de quem se interessa por saber das coisas que os amigos amam. É um truque para captar segredos. Segredos que gostaríamos de contar e ouvir.
Três dias depois que minha irmã morreu, lembrei-me que ela me prometera contar algo importante para ela e para mim. Posso supor mil coisas, menos o que ela me quisesse dizer. Ela se apagou de repente e levou consigo todos os segredos.
Nenhuma pergunta será a última, pois a existência prolongada das pessoas que se conheceram nesta caminhada é cheia de elos que as prendem numa corrente inacabada. Por isso, dizia-me Pedro de Montemor, visitem-me enquanto posso falar. Perguntem-me tudo o que possa responder. As flores sobre o tumulo não me falarão e, se falarem, não as ouvirei.
Minha tia Vanna determinou que não trouxessem flores em seu enterro. Ela não deu razões, mas creio que a rotina de levar flores ao morto se tornou mais importante do que o defunto que não as pode ver. O morto vai calado. As flores ficam falando sozinhas.

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