sábado, 9 de abril de 2011

AS MENINAS DO REALENGO

 

Wellington Menezes de Oliveira, um jovem de 23 anos, ex-aluno da Escola Municipal do Realengo (RJ), cidadão sem passagem pela polícia, massacra doze crianças. Fere uma dezena de outras, morre baleado por policial e por si mesmo. Quem era esse rapaz que, depois de morto, passou a ser descrito como atirador, monstro, covarde, assassino, desequilibrado, perturbado mental? Era um “vizinho estranho”, segundo comentários. Morava próximo à escola. Conhecido na vizinhança por ter hábitos incomuns, ninguém se mostrou interessado em prever comportamentos futuros. Sabe-se, depois de morto, que a mãe era esquizofrênica. O pequeno Wellington foi adotado por outra família. Passou por rápida terapia psiquiátrica.
Depois de morto, sabe-se que o “atirador monstro” quis deixar uma casa em Sepetiba para quem precisasse ou para quem cuida de animais abandonados. Ele mesmo era um desses seres abandonados que buscava cuidados, apreço, acolhida. Wellington deu tantos sinais em seus curtos 23 anos, mas passaram imperceptíveis aos aparelhos sofisticados de prevenção de desastres sociais desenvolvidos em universidades, laboratórios de psicologia e órgãos de segurança humana.
Sabemos detectar a trajetória dos ventos, a formação de nuvens, de furacões e tornados, tempestades, abalos sísmicos. Os cataclismos da alma humana, as variações do tempo na consciência, no inconsciente e no subconsciente são imprevisíveis pela nossa distraída ciência. Só depois de morto, ao ler a carta que Wellington deixou, os analistas identificaram as fraquezas psíquicas e mentais do jovem. Diz um psiquiatra (Luiz Renato Carrazai): “No cunho religioso sempre há dicotomia com a questão da sexualidade”. Atenção com padres, freiras e monges! Para outro psiquiatra (Antônio Geraldo da Silva), ao analisar seu “fanatismo religioso”: “Pessoas de frágil estrutura emocional podem ser facilmente arrebatadas por doutrinas ou seitas”. Carrazai reconhece nele um sentimento de culpa. “Wellington não tem perfil de psicopata já que demonstra necessidade de receber perdão”. A psicóloga Silvia Koller vê na compaixão aos animais abandonados o próprio abandono. “Não é que ele tenha vivido isso na realidade, era assim que ele percebia a realidade dele”. Depois de morto, sabe-se tudo a respeito da sexualidade reprimida, do fanatismo religioso, do complexo de culpa, do sentimento de solidão e abandono do rapaz. De sua vida escolar, nem uma palavra.
Somos ainda impotentes e atrasados em técnicas e programas de prevenção de desastres psíquicos cada vez mais comuns em nossa maluca sociedade que permite a venda e uso de armas letais. Talvez cada cidadão devesse escrever uma carta-retrato e enviá-la aos psicólogos, psiquiatras e analistas forenses para prevenir desastres sociais. Saberíamos, assim, quantos desequilibrados e potenciais atiradores andamos soltos pelas ruas de nosso bairro.

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