sábado, 26 de março de 2011

SÉTIMA POTÊNCIA

 

Percorro, neste período chuvoso, as ruas enlameadas do Engenho das Lajes. Sacos de lixo amontoados nas esquinas ou espalhados pelo chão. O esgoto das casas se derrama pelas sarjetas. Há dias, o país foi guindado à sétima potência econômica mundial, comprovada com o crescimento do PIB em 7,5%.
Encontrei algumas pessoas na rua, na Padaria do Zé, no supermercado do Roni. Comentei com alguns deles, levava comigo o Correio Braziliense, a notícia que consagrava o Brasil com a marca de sétima potência. No curso de todas as conversas, percebi que nenhum dos meus interlocutores tinha ideia do que fosse o índice 7,5%. Ao serem questionados sobre esse percentual, um deles arriscou: “então, é por isso que é a sétima potência”?
Quase todos, ao final da conversa, me perguntavam: “e o que é que isso muda pra nós”?
Cirino da Silva, o Foguinho, está desempregado. Tem seis filhos de duas mulheres. Vive do Bolsa Família e reparte entre as duas. Uma delas vende cafezinho e biscoitos numa banca improvisada, durante as manhãs.
Zico Chaves dos Santos é pau pra toda obra, de pedreiro a eletricista, pintor e arrumador de bicicleta. Deixou a esposa e filhos, em Goiás, e bebe aqui o pouco que apura no dia.
Selma tem quatro filhos, é diarista três dias na semana, ao preço de R$ 20,00 ao dia. Não conta com o dinheiro do marido, que é pedreiro, tem carro ano 75 e gasta tudo com outras mulheres à beira da Rodovia BR 060.
Zequinha, 65 anos, enxada nas costas, vive de empreitas nas chácaras ao redor do Engenho. Além da família, sustenta vários netos que nasceram de ligações perigosas.
Joelsivan Pereira Neto é vigilante de um empório de material de construção, em Samambaia. Nos dias de folga é ajudante de pedreiro.
Rosa Couto Morais, Rosinha, 13 anos, está no sétimo ano do Ensino Fundamental. É uma das 30 adolescentes do Engenho das Lajes carregando gravidez precoce.
Deixo algumas sugestões dos moradores do Engenho das Lajes com quem conversei, depois do anúncio feito pelo ministro da fazenda, doutor Mantega.
“Eu acho que o governo tem que olhar pra nós. Aqui não tem emprego”.
“Olha como é que está (sic) essas rua. Uma vergonha!”
Voltei à biblioteca popular do Engenho das Lajes e continuei a leitura de FEBEAPÁ 3, de Stanislaw Ponte Preta. Em 2020, está previsto, o Brasil será a Quinta Potência Econômica Mundial. Até lá, o Engenho das Lajes espera não ser mais o mesmo.

Um comentário:

suo mais eu disse...

A sÉtima potencia pode ser a ONU.