quinta-feira, 31 de março de 2011

HÁ TRINTA ANOS

 

Há trinta, há vinte, há quinze anos, da rodoviária do Plano Piloto de Brasília ao Setor de Indústria e Abastecimento, onde estão as oficinas de automóveis, lojas de material de construção, madeireiras e armazéns, ia-se em dez minutos. Marcava-se o horário de atendimento para revisão do carro para as 8h e a desculpa do engarrafamento não existia.
Ontem fui convocado para uma reunião no SIA às 8h. Parti da 406 Sul às 7h25. Desviei o primeiro entupimento na Comercial 205 Sul e caí no engarrafamento da 907 Sul. Tentei descer pela W-3, sem sucesso. Na altura da 913 Sul, o congestionamento paralisava o metabolismo viário. Às 7h45, passei pelo contorno do cemitério e, lentamente, alcancei a pista do Setor Policial. Finalmente, depois de suportar condutores que se infiltravam pela direita e pela esquerda, bêbados de adrenalina, cheguei ao destino às 8h10.
Parece que não compreendemos ainda o tamanho do mal que nos estamos causando. Os horários de começo e fim do trabalho continuam, cabeçudamente, centralizados em Brasília, como padrão de ineficiência e ineficácia. Reuniões e eventos são convocados para as 8h ou 19h, ignorando que sejam momentos de maior congestionamento. E o que é mais ridiculamente irracional, todos os carros, todos os dias enfrentam as mesmas torturas.
O poder da organização social ainda não foi usado. Nós, a maioria, somos o segundo poder sem uso. E nos deixamos dominar pelo poder menor de quinta classe. Só este dado deveria provocar uma comoção social, um arrastão de bom senso. Um carro, em qualquer  lugar que esteja, na garagem, em frente a casa, na rua, no estacionamento, ocupa 6m2. Trafegam, no DF, 1,200 milhão de automóveis, comprometendo 7,2 milhões de m2, igual à área de 100.000 apartamentos de 72m2, que abrigariam, no mesmo espaço, 500 mil pessoas.
Se contarmos o volume de água necessário para fabricar um automóvel (15.000 litros), o rio que corre pelas vias de Brasília sobre rodas, diariamente, é de 18 bilhões de litros. Água suficiente para abastecer 90 milhões de pessoas, metade da população brasileira num dia.
Não há de se estranhar que a água esteja em perigo, que milhares de nascentes, no DF, desapareceram sob vias, viadutos e estacionamentos e que o clima está mudando. Só não mudamos nós que temos a força do segundo poder.

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