terça-feira, 1 de março de 2011

ÁGUAS ABAIXO


Perguntam-me, por vezes, de onde provém meu interesse pela contenção das águas da chuva, sendo eu sociólogo e escritor. O assunto, como se sabe, é pertinente a biólogos, geógrafos e geólogos. Um jornalista me telefonou, certa ocasião em que se discutia a ocupação ilegal do Jardim Botânico, em razão de um depoimento que fiz, por correio eletrônico, a um jornal da cidade de Brasília. Diante de minhas respostas sobre o risco de perdemos os mananciais daquela área com o povoamento descontrolado, afetando com isto a fauna e a flora do Jardim Botânico, ele me perguntou se eu era biólogo.
– Não, sou sociólogo, respondi.
– E por que se interessa pela água?
Permaneci mudo por alguns segundos e lhe disse que a água devia interessar a todos. O entrevistador prometeu contatar-me, mas nunca mais telefonou. Ignorou minhas respostas. Eu não sou biólogo.
Hoje, eu lhe diria que me interesso por todas as águas e especialmente pelos ¾ de água que transporto em meu corpo. Meu corpo é uma sanga que corre pelas ruas entulhadas de carros de minha cidade. Uma passeata de protesto pela Esplanada dos Ministérios é uma inundação. Uma área invadida por 70 mil pessoas, como no bairro Vicente Pires, é igual a um transbordamento, uma enxurrada arrasadora diária de 1,980 mil litros de água, ao volume médio de 28 litros por corpo. E, para repor essa água que 70 mil habitantes levam no corpo, são usados 14 milhões de litros diários, estimando-se o consumo de 200 litros por pessoa.
Como, então, não se preocupar e se ocupar da água? E o que escapa ao cidadão, seja ele jornalista ou engenheiro, é que essa água toda, todos os dias, volta suja aos córregos e sua evaporação infecta o ar que respiramos. A água limpa da chuva tem a virtude de manter limpa a água do corpo.

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