domingo, 13 de março de 2011

Ninguém sou eu


Os dias ficam curtos e silenciosos.
Passam horas vazias.
Desejos confusos seguem os ponteiros e se chocam nas badaladas dos sinos.
Um vento dissimulado sopra em minhas costas.
Meus cabelos voam e os pensamentos me escapam.
Flores se escondem por entre os ramos da barriguda e os beija-flores pairam no ar diante delas, espetados na corola.
E eu, aqui, confuso, olhando nuvens que se fundem e desaparecem na tempestade.
A chuva cai.
A enxurrada leva as mazelas da cidade para os esconderijos das bactérias.
Lava as folhas. Gotas brilham à luz moribunda de lâmpadas amarelas.
Quem é você? Pergunto-me sem responder.
E, nesse momento, a moça que conduzia o Cocker no laço olhou-me assustada.
Eu não era ninguém. Um fantasma apenas a murmurar perguntas metafísicas.
Os astros giram e eu, na casca de um deles.
Um hiperbóreo recém-amanhecido na Aurora Boreal.
Uma sombra perdida nas cores do arco-íris.
Que nota musical é essa que saiu daqueles olhos?

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