terça-feira, 29 de junho de 2010

É DO BRASIL

Durante o torneio da Copa do Mundo de Futebol, quando a seleção brasileira entra em campo, o Brasil para. A convocação é federativa. Todos a correr, uns com os pés, outros com os olhos, atrás de uma bola. É, por vezes, tanta a paciência reprimida dos 200 milhões de jogadores que, nos 95 minutos de corrida insana, não conseguem meter a esfera entre os paus da porteira.
Nesses 95 minutos de expectativas, ansiedades, palavrões, frustrações, indignações, ataques cardíacos, roubos a lojas e carros, gritos de guerra, lágrimas de emoção sincera, mandingas e despachos, foguetório ensurdecedor, finalmente, a bola penetrou na vagina do estádio. Orgasmo nacional.
Nesses 95 minutos, para alegria de nossos ministros econômicos e estatísticos atentos, a barra de mercúrio do termômetro do PIB subiu alguns pontos depois da vírgula. Cem milhões de litros de cerveja desceram redondo, sorvidos com moderação, empurrando algumas toneladas de carne, impulsionando a indústria, o transporte, a distribuição, o consumo e a exportação do melhor futebol da era Dunga. Duzentos milhões de camisetas verde-amarelas e bandeiras do Brasil vestidas e hasteadas garantem no corpo, nas janelas, nos carros e nas ruas o patriotismo e o orgulho de um povo que não desiste nunca, mesmo quando as águas enfurecidas lhe arrastam a casa e os filhos.
É hora do jogo. O engarrafamento das grandes cidades e a televisão param o Brasil. Faltam 15 minutos para o início da disputa. Com exceção de poucos retardatários, um silêncio grosso, reverente e religioso paralisa o país. O Brasil está na iminência de um milagre, da ressurreição da glória ou da catástrofe irrecuperável.
Explosão súbita! Todos viram ao mesmo tempo. O Brasil se engrandeceu com o pontapé de um jogador. Alívio geral. Abraços, beijos, gozo geral. O Brasil gozou três vezes, mas queria mais, cinco, sete vezes. Indefinidamente.
Se tudo der certo, se os jogadores tiverem sorte, se os brasileiros mostrarem fé inquebrantável, se Deus continuar brasileiro até o fim, se os orixás da Bahia não vingarem os escravos da África, o Brasil parará sete vezes. E não admite ser vice-campeão. Ou tudo ou nada.
É do Brasil!

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No dia de meu aniversário, 28.06, recebi estes lindos versos:

Parabés pra você
nesta data feliz
muita felicidade
é o que nóis sempre quis.

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