quarta-feira, 2 de junho de 2010

FOGO NO CERRADO


Amanheci triste e indignado. O chão, as mesas, as árvores estão cobertas de cinzas do cerrado do Sítio das Neves que, ontem à noite, ardeu. Milhares de vidas pereceram e outras tantas foram torturadas pelas chamas. Os gritos da natureza comoveram a noite, as estrelas, a lua. Os torturadores incendiários fugiram batidos pela covardia.
A ignorância e a displicência de alguns brasileiros desprezam as leis e as normas da convivência com a natureza. São criminosos soltos na rua. Anônimos e arrogantes. O exemplo vem de cima. Presidente, senadores, deputados, ministros, empresários, diretores sindicais desafiam publicamente as leis e os controles institucionais. Ensinam à população que a desobediência e certo tipo de crime ficam impunes ou as pensas não lhe riram o sono. Os incendiários que atearam fogo no pedaço de Cerrado deveriam ser punidos pelo crime de matar 40 hectares de vidas inocentes e pacíficas. Quem são eles? Anônimos covardes, agressores sem alma.
Como todos os criminosos, eles voltarão para certificar-se do local e dos cadáveres. Assegurar-se também de que são criminosos e agiram como malfeitores a soldo da própria ignorância e maldade. Recebem por pagamento a satisfação ignominiosa de ser matadores displicentes e impunes. Riem da própria audácia. O prazer de incendiários os alimenta. De quem se vingam quando agridem a natureza da qual se originam? Quem são seus inimigos reais que, de repente, tomam a forma de plantas, insetos e bichos protetores de nossas águas? A quem queriam matar se a covardia não os impedisse?
O silêncio dos inocentes os acusará sem cessar, mesmo que as palavras da lei não sejam suficientes para indiciá-los e puni-los.

Um comentário:

KAÁ disse...

Palavras de protesto em poesia. Lindo do início ao fim! E real...