domingo, 7 de março de 2010

MASMORRA

Antes de mais nada, vamos ao termo. Entre os mouros, mazmorra era um celeiro subterrâneo. Poderia servir de cárcere para criminosos condenados à morte. Daí mata-morra ou masmorra.
O jurista Nélio Machado, advogado do prisioneiro Arruda, na peroração de defesa, afirmou que seu constituinte foi lançado numa masmorra. Para quem não acompanhou o caso da Caixa de Pandora, na cidade de Brasília, nem viu o filme Me dá um dinheiro aí, o Senhor Arruda é governador convalescente do Distrito Federal e, ao mesmo tempo, paciente da Justiça. Vitimado pelo câncer da corrupção, seu estado de saúde política é grave, fato que determinou seu internamento imediato numa UTI policial que o advogado denominou masmorra, calabouço, ergástulo. Local que lembra fedor, escuridão, teto baixo e água até o joelho.
O Brasil é uma potência emergente, tirada do nada pelo novo paradigma do crescimento econômico. Há 8 anos, o país não existia, era o caos, recém-devastado pelo dilúvio. Nunca se fez tanto “nesse país” nem se disse tanta imbecilidade.
Tudo, agora, é diferente, inclusive as masmorras. Aquelas cadeias superlotadas de pacientes – 470 mil ocupando 270 mil leitos − são coisas do passado. Transformaram-se em masmorras modernas. Um novo paradigma de prisões está em curso.
Nossas masmorras, modelo para países do Primeiro Mundo, têm ar condicionado requerido pelo país tropical, mesa de leitura, pois não há mais presos analfabetos, frigobar para gelar a água e a cerveja, refeições à la carte trazidas de fora, beliche para o ou a acompanhante e, finalmente, basculante 30X30 para olhar estrelas.
Os sobreviventes da implosão do Carandiru e os pacientes da Papuda se inscreveram no concurso para as vagas nas novas masmorras do Distrito Federal.
Vivemos num país maravilhoso onde até as masmorras são disputadas pelos pacientes da Justiça.

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