sexta-feira, 5 de março de 2010

JIPÕES

Pelas ruas de Brasília circulam mais e mais carros grandes, imponentes, impressionantes. Várias marcas, todas elas procedentes dos tigres asiáticos, embora esses monstros sejam montados aqui.
Essa invasão de mega carros tem, a meu ver, duplo propósito. Estimular a indústria de automóveis e diferenciar a classe de compradores. Recorde-se que uma das medidas governamentais para mascarar a recente crise do capitalismo foi a desova de bilhões de reais para s montadoras, amparadas por financiamentos bancários. Em Brasília, graças aos incentivos ao consumo, são matriculados por dia mais de 100 automóveis novos.
O sonho de milhares de brasileiros se realizou. O automóvel se vulgarizou. Secretárias de departamentos, garis, cabeleireiros e outras profissões que até pouco tempo eram usuários de ônibus, hoje, possuem carros e estão felizes. As ruas se encheram de automóveis. Os engarrafamentos fazem parte indispensável da rotina. Disputa-se vaga escassa nos estacionamentos.
A classe média foi nivelada por baixo, pela banalidade de ter carro barato, acessível, 80 meses pendurada no carnê das prestações. Esse fato não agradou aos que se sentiam privilegiados por ter comprado carros sem a ajuda do governo. Como sair dessa mediocridade do carro barato? Como aparecer em destaque no desfile dos automóveis?
O jipão. Eis a solução. Jipão de marcas e nomes raros. Quatro portas. Tração nas quatro rodas. Para-choque ereto apto a demolir um Fiat-uno atrevido. Vidros escuros impedem a identificação do condutor. Ocupa 8,4m2 de espaço físico e 16 m3 de domínio aéreo.
O poder do rei, ainda hoje, se mede pelo tamanho do palácio, número de conselheiros e pajens, desfile de princesas e uniformes da guarda real.
O jipão substitui tudo isso. É um trono real ambulante. Do alto do volante domina o trânsito, impõe sua arrogância, distingue-se da patuleia que se satisfaz com latarias primitivas.
A desigualdade é, aparentemente, um ingrediente necessário para edificar uma civilização. Será também, no curso do tempo, um vírus para destruí-la.

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