terça-feira, 9 de março de 2010

BIBLIOTECA DO ENGENHO DAS LAJES

Ao completar 70 anos, convidei amigos para festejar essa data comigo, em um sítio que temos no Distrito Federal, próximo à Agrovila Engenho das Lajes, à margem da Rodovia BR 060, Km 30.
Em lugar dos presentes costumeiros, sempre difíceis de escolher, minha mulher e eu decidimos pedir livros aos convidados para iniciar uma biblioteca nessa Agrovila. Os amigos trouxeram 350 obras e uma estante metálica.
Livros e estante são o básico para uma biblioteca. Mas para funcionar precisa de elementos imprescindíveis: leitores e bibliotecário.
Num país carregado de analfabetismo crônico, de escolas públicas jogadas a segundo plano, os administradores se preocupam com a água, o esgoto e a luz, além das vias empoeiradas e enlameadas. A Agrovila Engenho das Lajes, a 50 quilômetros do centro da capital da República, é o retrato do abandono. A biblioteca, último item de prioridade administrativa.
Quatro anos foram despendidos a convencer administradores, professores da Escola Classe, com 420 alunos, a Associação de moradores sobre a importância da biblioteca.
Como é comum em vilarejos pobres, dominados por líderes espertos e políticos astutos, o povo está acostumado a pedir e a receber migalhas aos ricos de fora. A biblioteca do Engenho das Lajes também recebeu ajuda exterior, vinda do programa Casa do Saber, mantido por uma rede de postos de gasolina BR.
Há, no Brasil, algumas centenas de bibliotecas fechadas, não por falta de leitores, mas de alguém que lhes abra as portas. A biblioteca comunitária do Engenho das Lajes é uma das que têm suas portas abertas durante os cinco dias da semana com uma frequência admirável de crianças, adolescentes e adultos. Um acervo de mais de 3 mil livros.
As portas se abrem graças a voluntários que se cotizam todos os meses para garantir a abertura da biblioteca, procedida por um morador da Agrovila. Os leitores não só leem. Escrevem também e desenham. Cadernos, lápises e canetas estão disponíveis aos leitores e futuros escritores.
Enquanto o administrador do Engenho das Lajes se ocupa da água e do esgoto e a polícia garante a segurança das ruas, a biblioteca cuida da mente das pessoas e acende luzes nas avenidas do espírito.
Quando um Estado cuida do povo e um povo preza a educação, a leitura, o conhecimento e a sabedoria pode-se confiar no presente e no futuro da nação.

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