quarta-feira, 31 de março de 2010

CENTENÁRIO DE BRASÍLIA

Carta que minha neta Luiza me enviou, em 21 de abril de 2060.
Hoje, Brasília completa 100 anos. Subi na Torre de TV com minha neta. A cidade e arredores parecem uma imensa floresta. O Parque da Cidade, desde 2035, foi remodelado depois da proibição da entrada de carros. Chega-se até o Parque de ônibus circular ASANORTE/PARQUE (ANP), de metrô de superfície (MS) ou de bicicleta. Nos antigos estacionamentos, há escolas de pintura, de música, de danças e ginástica.
A vista do Lago é magnífica. O Passeio da Orla, sombreado por elegante arborização, inaugurado em 2030, recebe milhares de brasilienses, diariamente, para longas caminhadas. Uma empresa comunitária, sob fiscalização eletrônica, faz a manutenção e limpeza do Passeio e administra as cabanas de refrigério ao longo das duas pistas. Uma, para bicicletas. Outra, para caminhantes.
Com as novas leis do trânsito, adaptadas às determinações do Comissariado Mundial do Ambiente, a maior parte do transporte urbano é público e movido a energia solar ou elétrica. Desde 2050, a população se desloca por meio de bicicletas ou motoelétricas. Finalmente, com a pressão intensa dos cidadãos, o transporte público reduziu o número de automóveis ao mínimo necessário: ambulâncias, bombeiros e taxis de emergência. As avenidas, agora sombreadas, servem aos ciclistas e motolétricos.
Os estacionamentos são, em sua maioria, pequenos e agradáveis parques com chafarizes, alimentados com águas da chuva retida em reservatórios subterrâneos, espalhados pela área de Brasília e cidades-satélites. Quase todos os estacionamentos foram transformados em centros de cultura, de saúde e laboratórios de pesquisa. A quebra da Petrobraz, em virtude da abolição do uso de combustíveis sujos, desvalorizou milhões de carros que ficaram impedidos de trafegar. Seus proprietários os utilizam como pequenos quiosques, ao longo das ciclovias, para vender refrigerantes, sorvetes e lanches.
Com os estímulos e a descentralização dos serviços públicos para as cidades-satélites, Brasília e seus monumentos arquitetônicos atraem mais turistas e visitantes do que cidadãos em busca de soluções burocráticas. Os mesmos estímulos e descentralização foram aplicados nos Estados da Federação, levando centenas de milhares de moradores do Distrito Federal a voltarem a suas cidades de origem ou ir para áreas especiais de exploração da permacultura, e alimentos orgânicos.
Além disso, a Lei Demográfica, de 2028, recomendou e pôs em prática um plano de decrescimento da população. Depois da implantação da rede escolar eletrônica, em 2052, os alunos do primeiro e segundo graus e parte dos universitários, assistem às aulas por computador em suas casas ou salas adaptadas nos edifícios e quadras onde moram. O mesmo acontece com as consultas médicas encaminhadas através de um serviço de saúde pública, eletrônico, individual e comunitário, pelo qual os pacientes recebem as orientações, medicações ou recomendações especializadas. A qualidade e a oportunidade do ensino e do atendimento sanitário são as mesmas para todos os cidadãos. Reduziram-se os custos sociais e se utilizam os impostos para outras finalidades, além de sobrar mais dinheiro do salário familiar no fim do mês.
Uma nova Lei do Lazer foi instituída, em 2055, promovendo a construção de arenas e teatros, agregados a bibliotecas comunitárias, nos espaços desocupados por automóveis, para execução de orquestras, conjuntos musicais e representação dramatúrgica. Um apreciado programa de arte e cultura para todos.
Brasília e todas as comunidades que a rodeiam parecem um imenso parque onde cantam, nas madrugadas, milhares de pássaros de todas as cores. Nele correm águas cristalinas que brotam de nascentes recuperadas, graças à intensa arborização e proteção das árvores nativas e outras espécies adaptadas. A ideia nuclear do projeto do arquiteto Lúcio Costa de construir cidades-parque, para felicidade de nossa geração e com nossa participação cotidiana, foi compreendida e executada.
Cem anos é um tempo suficiente para aprender lições que servem para os que vêm depois de nós.

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