quarta-feira, 3 de março de 2010

ARAPUCAS SOLERTES

São grandes os perigos desta vida, cantou Vinicius. Estamos cercados de inocentes arapucas. De repente, plaft, caímos nelas.
Ultimamente, Pedro de Montemor, ajudado pela argúcia da polícia federal, descobriu alguns tipos de ratoeiras no caminho de altos funcionários dos três poderes da república e de todos os níveis administrativos, da Presidência do país ao prefeito municipal.
Por precaução e intuição, Pedro de Montemor, há tempos, não usa algumas peças do vestuário. Deixou de vestir meias há mais de 10 anos. Só as enfia em extremo caso de necessidade, esquiando no gelo escandinavo, onde ninguém o aborda para pedir um cigarro.
Magali, sua amiga de muito tempo, carnavalesca e líder de eventos culturais, não leva mais bolsa a tiracolo. Teve dois péssimos momentos. Um pivete lhe arrancou das mãos a que recebera de presente no aniversário de 20 anos. E, no aeroporto de Miami, encontraram 5 pedras de crack que o vizinho da poltrona 5B, no voo da Delta Airlines, havia posto em sua bolsa para dividir o estoque.
Ranulfo, um engenheiro obeso, vangloriava-se a Pedro de Montemor de nunca ter usado cueca, traste incômodo para os momentos de necessidades urgentes.
Um político sovina, de quem Pedro de Montemor foi eleitor, mandara confeccionar suas roupas de campanha eleitoral sem bolsos. Nem entrava, nem saía dinheiro. Não se comprometia com bilhetes, pedidos de emprego ou cartas de reivindicação dos eleitores.
Pedro de Montemor concluiu que a corrupção faria menos vítimas fatais no trânsito político e administrativo, abolindo-se por Medida Provisória o uso de meias, bolsas de qualquer tamanho, os múltiplos modelos de cuecas e a infinidade de bolsos sempre prontos a receber propinas.
Descobertas, finalmente, graças à sagacidade de Pedro de Montemor, as causas sutis da corrupção brasileira comprometida com o crescimento do PIB, rumo à terceira potência econômica mundial.

Nota: Meus livros (romances) A saga de um Sítio, O Homem proibido, Em nome do sangue e As pedras de Roma, estão disponíveis a preços módicos no eugeniogiovenardi@gmail.com e a tradução do Homem Proibido em inglês – The forbidden Man − para download livre.

Nenhum comentário: