segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A SEREIA DE COPENHAGUE II

Se a humanidade não desenvolveu tecnologia eficiente e adequada para deter o processo natural de aquecimento do planeta e estimulado pela ação humana discutido em Copenhague, sem acordo de números e metas, é possível atuar em muitas outras frentes com medidas simples e inteligentes.
A humanidade vem se adaptando e resistindo às modificações climáticas há milênios. Parece que entramos na era do secamento, aquecimento e desertificação do planeta e, ao mesmo tempo, de inundações surpreendentes e fora de controle. A era das contradições climáticas do ponto de vista da prática cotidiana. A destruição da Amazônia, do Cerrado, da Mata Atlântica, do Nordeste, do Pampa foi causada pela mão explícita do homem. Se tem a ver com o derretimento das geleiras é o que a ciência investiga e indícios fortes levam a concluir que a pegada ecológica da humanidade avança perigosamente. Mas o que não permite dúvidas é a ação humana devastadora na exploração das riquezas naturais para abastecer e garantir a sobrevivência de quase 7 bilhões de pessoas, sem contar os bilhões de animais e outros seres vivos que integram distintos rebanhos e florestas a serviço do homem.
Se a tecnologia que temos, sem falar na falta de vontade política adormecida para assegurar a sobrevivência da biodiversidade em condições inclementes, não se revela suficiente para evitar ou deter o aquecimento do planeta, a razão do homem pode, pelo menos, perceber que as inundações e a desertificação nos campos e nas cidades são obra de sua mão.
Que foi fazer em Copenhague nossa delegação de 720 negociadores? Não se propunha a COP15 diminuir as emissões de CO2? Os números apresentados não visavam a isso? Como acreditar que esses números não escondam uma sutil hipocrisia e não passem de uma quixotesca aventura contra moinhos de vento?
Não foi aqui, no Brasil, que se estimulou a venda e a compra de automóveis de tecnologia suja com isenção de impostos, créditos fartos, baratos e estendidos?
Não foi aqui, no Brasil, que o Presidente da República se empenhou pessoalmente como marqueteiro do consumo insano para salvar as indústrias e os bancos, adiantando salários, devolvendo antecipadamente impostos com sacrifício do Tesouro Nacional?
Não é aqui, no Brasil, que, há um ano, as jazidas do pré-sal para farta queima de óleo fóssil e poluidor está na ordem do dia?
Não é aqui, no Brasil, que a devastação da natureza e desertificação rural e urbana submergem milhares de cidadãos em centenas de cidades, entre elas São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro?
Não se pode esperar que propostas venham de Copenhague para salvar nossa insensatez na perseguição do crescimento econômico voraz e insaciável, baseado no consumo compulsivo, insensatamente estimulado. Nas se pode esperar de nenhuma parte nem na aguardada descida de anjos se o Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA, O IBRAM de Brasília e todas as secretarias de meio ambiente dos estados não forem capazes de propor à discussão democrática nacional um sistema simples e moderno de educação ecológica e ambiental.
Começaríamos por apoiar dezenas de escolas que timidamente, sem os recursos bilionários prometidos em Copenhague, estimulam seus alunos a amar e respeitar plantas e animais e a proteger nossas águas. Eliminaríamos o espetáculo degradante e humilhante de jogar lixo tóxico ao longo das rodovias, nas ruas e praças de nossas cidades. Veríamos eliminados os estragos que as inundações anuais e recorrentes trazem a milhares de famílias se restituíssemos às margens dos rios suas antigas florestas. Empregaríamos a inteligência da água para captá-la no período chuvoso nas matas de cabeceira, com a reflorestação das nascentes.
E passaríamos a discutir o modelo de crescimento econômico predatório que nos é imposto e substituí-lo gradativamente por uma administração da riqueza natural sem desperdícios, sem a obsessão do consumo insaciável, na medida em que todos possam desfrutar do conforto material.
As mudanças necessárias na ação humana capazes de construir um mundo diferente, mesmo que as transformações climáticas façam parte de ciclos e de eras cósmicas, foram sussurradas pela Sereia de Copenhague, mas os governantes de 192 países taparam os ouvidos.
Voltaram todos para seus países a cuidar das taxas de juros, da derrama do crédito, das bolsas de valores, da cotação do dólar, dos índices de inflação, das metas do PIB, embalados por programas de aceleração do crescimento econômico infinito e insustentável.
Nossa representação visível, em Copenhague, parece que não sabia do que estava falando. Ou então, engoliremos a contragosto a bomba que a chefe de nossa missão ecológica, empregando a tática de experta guerrilheira, jogou de surpresa sobre as 192 nações estupefatas: “O meio ambiente é, sem dúvida, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável do mundo e do Brasil”.
Não há bravata de oferta de bilhões de dólares brasileiros aos ricos e aos pobres que oculte o fracasso de nossos esforços mentais para compreendermos uma verdade singela: não é o planeta que precisa de nós. Nós é que precisamos dele.

Um comentário:

Chicão Somavilla disse...

O Capital é o maior obstáculo para que se chegasse a um acordo objetivo e positivo em relação à emissão de gás carbônico na atmosfera; o Capital (de todas as tendências ideológicas), este sempre foi e continuará sendo um grande obstáculo para que a vida na terra possa passar a ter alguma esperança de melhoria de qualidade. Os interesses econômicos são colocados antes da vida, antes daquilo que é necessário para a sobrevivência do planeta e de seus habitantes; na COP 15 como em outros encontros internacionais sobre o tema, foi possível ver e sentir o quanto que as “criaturas” que comandam as Nações do primeiro mundo se (des) preocupam com o restante desse mesmo mundo. É uma inadmissível falta de bom senso somada a uma visão de mundo totalmente equivocada no que se diz respeito à preservação da vida com qualidade.
Pessoas ou criaturas como estas que se dizem inteligentes, que se acham donos da vida na terra não merecem ser comparadas a um inseto onívoro de corpo achatado, pois nem mesmo entre um grupo destes insetos existe tamanha podridão na forma de pensar. Claro, barata não pensa, se pensasse, agiria da mesma forma que os honoráveis e respeitáveis senhores guardiões do mundo.