quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

EXCLUSÃO EXCLUSIVA

Economistas, sociólogos e, principalmente, políticos profissionais, apesar dos múltiplos programas e pacotes propostos, sabem que eliminar as desigualdades sociais no regime capitalista é utopia. Cada analista justifica e dá boas razões para esse fracasso anunciado. Convencionou-se adotar a estratégia, continuada ao infinito, de contentar-se com a gradativa e lenta diminuição da desigualdade. A estatística é chamada a comprovar sua redução à medida que grupos dessa população desigual adquiram geladeira, celular, máquina de lavar, TV, o que supõe dinheiro ou crédito bancário.
Os economistas conhecem bem essa tática de enriquecimento por meio de dívidas permanentes. Psicólogos e médicos acodem pelo outro lado, acalmando ansiedades, frustrações, úlceras e dores de cabeça, quando não suicídios.
A desigualdade é combatida em consonância à inclusão social. São dois termos casados e de difícil definição. Igualdade não é exatamente o oposto de desigualdade. Por serem desiguais, dois objetos ou duas pessoas podem não ser contraditórios. Por outro lado, nem todos querem ser incluídos num quadro de igualdade pintado por sociólogos ou políticos.
Ultimamente, o conceito de desigualdade e exclusão vem sendo fomentado de modo especial pela indústria imobiliária com técnicas e métodos de propaganda e publicidade visual ilusionista.
Os ricos propõem como alvo da grandeza social e da felicidade pessoal a desigualdade e a exclusão. Os bairros residenciais oferecidos aos que têm dinheiro e crédito farto são exclusivos para seus moradores, nada semelhantes aos bairros da periferia nos quais entra e sai quem quer. “As vias que levam ao bairro residencial exclusivo possuem estrutura comercial de conveniência, o que facilita ainda mais a vida dos moradores”.
É, portanto, um bairro sustentável, isto é, seus habitantes têm dinheiro suficiente para sustentá-lo e garantir sua exclusão do resto da cidade. Essa premeditada e conquistada exclusão é protegida por portarias de segurança com controle de acesso. Um excluído se submete a identificar-se a um funcionário que não mora no bairro de máxima segurança. “O perímetro é fechado com sensores contra invasões, reforçados por ronda motorizada 24 horas, além das câmaras de segurança”. A liberdade de ir e vir é assegurada e bisbilhotada por olheiros atentos e pagos para garantir a total exclusão.
Nossa sociedade, não capturada pelas estatísticas, baseia-se na desigualdade e defende a exclusão, confinando seus adeptos em campos de concentração de serviços e facilidades, privilégio de que só gozam os que se sentem excluídos do comum dos mortais e, em consequência, orgulhosamente desiguais.
A desigualdade concebida por sociólogos, economistas, políticos profissionais, e medida por estatísticos, está confinada na comparação entre miseráveis e pobres, entre mais pobres e menos pobres, entre os famintos e os que, hoje, podem comprar carne e biscoito recheado. A distância entre os que se excluem voluntariamente da sociedade e os condenados à exclusão pela força do regime capitalista de distribuição de oportunidades, mede-se em quilômetros facilmente vencidos por velozes carros individuais.
Logo mais, a desigualdade será medida entre os que não têm e os que podem ter um panetone no Natal. O panetone natalino e pré-eleitoral será um dos ingredientes da inclusão social assegurada pelos meios tradicionais da bem urdida corrupção moral e pecuniária, despudoradamente imprescindível para o funcionamento da máquina política e administrativa das empresas, das cidades, dos estados e da República.

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