segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ACENDEDOR DE ESTRELAS

No curto tempo de uma existência, o mais sábio é edificar, na medida do possível, um paraíso terrestre e desfrutar dele.
A natureza é bela por toda a parte.
As árvores me esperam com danças de suas ramadas, todas as manhãs, em frente à janela de meu esconderijo.
As flores que suportaram pacientemente a escuridão da noite me alegram ao romper do dia.
O sabiá e o bem-te-vi me despertam com desinibida sinfonia.
A chuva mansa, molhando tudo, rega também as raízes da esperança no mais profundo da alma.
O raio e o trovão se esparramam pelo espaço infinito, derramando luz e sons e assustando as estrelas por trás das nuvens carrancudas.
Ele queria ser um acendedor de estrelas para enfeitar certas noites tenebrosamente escuras e desesperantes.
Acenderia uma a uma, dependuraria sobre a curva do horizonte, no topo da nuvem passageira, em cima da vaga grossa do mar, no pico do rochedo.
Ele queria recolher as lágrimas do choro de todas as saudades e de todas as felicidades que a humanidade registrou para dessedentar-se.
É preciso... é preciso, dizia, delatar os sorrisos ocultos, revelar a palavra que se escondeu na arca do pensamento, manifestar o desejo secreto do beijo e do abraço.
Tocar é preciso essas músicas caladas nas partituras e abrir os pianos, dedilhar as harpas, fazer vibrar os arcos tesos de amores secretos.
A vida é o único alimento da vida.
Não há outra vida a não ser a vida.
É preciso... é preciso juntar as vidas, ouvir estrelas e flores, plantas e pássaros e os vagidos dos nascimentos tímidos.
Ele queria que o fio da vida unisse todos os caminhantes como o acendedor de estrelas as junta de noite no firmamento a piscar os olhos e a seduzir as almas ao gozo da existência.
É uma só a vida, curta e efêmera, devorando-se lentamente, apagando-se ao nascer de um novo dia.
Outras noites, outras noites hão de vir, iluminadas pelas mesmas estrelas.
Ele andou pela vida acendendo estrelas.
É preciso sair à noite para vê-las.

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