terça-feira, 16 de dezembro de 2008

VER ESTRELAS

A vida é disputada palmo a palmo, minuto a minuto. Reparte-se o tempo em frações e migalhas. Há que dormir e acordar. Ir à padaria bem cedo para comprar o pão. Passear por entre as gôndolas do supermercado para encaixar os produtos no orçamento. Correr para o ônibus, ao metrô, ao carro para chegar ao trabalho a tempo de não ser repreendido pelo chefe.
Vai-se ao almoço, ao jantar ou ao bar da esquina. Tudo está previamente disposto. Compromissos, hora marcada. Ao médico, ao dentista que, via de regra, fazem o paciente esperar e ler uma velha Caras ou Veja. É o velório inesperado, o enterro. As crianças para a escola, ir e vir, ao balé, ao esporte. Horas gastas no trânsito engarrafado, na fila do banco, na porta da Loteca, na procura do emprego melhor. E a cozinheira na cozinha, a empregada no aspirador e no espanador, a passadeira na prancha e no ferro de engomar. E cada um em sua azafama diária ou noturna.
Minha neta Luiza convidou-me para sair à noite e ver estrelas. Milhares de carros circulavam em todas as direções, impacientes, loucos. Ouvia-se o vozerio dos bares, discussões nas TV’s que as novelas emitiam, a voz esganiçada do locutor de futebol.
Luiza queria escolher uma estrela, dar-lhe um nome e registrá-la como sua. Escolheu provisoriamente Alfa do Centauro.
Rodamos no espaço a bordo de um planeta a uma velocidade estonteante e, daqui, na escuridão do infinito, podemos apreciar estrelas.
Poucos saem à noite para ver estrelas. São nossas vizinhas na imensidão do firmamento. A noite é o caminho das estrelas. Mas, se quase não conhecemos o vizinho da porta ao lado, como sair à noite para ver estrelas, nossas vizinhas.
Disse Dante a Virgilio ao sair do Inferno:
− Uscimo a riveder le stelle. Saímos a rever estrelas.

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