terça-feira, 16 de dezembro de 2008

PERIGO INVISÍVEL

O agente de trânsito, de apito na boca, ergueu o braço, espalmou a mão e indicou a pista do acostamento ao condutor. Pediu-lhe os documentos, sem pressa, leu-os. Confrontou os dados e, com passo lento, foi à parte dianteira e traseira do automóvel.
− O senhor ultrapassou os limites permitidos de velocidade para este trecho da via.
− É verdade, reconheceu o cidadão, educadamente. O trânsito estava livre, achei que podia correr mais. Estou com um pouco de pressa.
− O perigo é invisível, filosofou o agente, e entregou-lhe a notificação da multa.
Os educadores repetem às mães que os filhos precisam, desde cedo, conhecer os limites. Até onde é possível e onde não é permitido aventurar-se sem risco de se perder na selva das relações humanas? Os perigos desta vida são invisíveis.
Os limites existem e também são, muitas vezes, invisíveis e o perigo de ultrapassá-los podem causar sérios danos. Há limites para gastos e investimentos, para comer e beber. Há um limite de peso que nossa coluna possa suportar. Há um limite de filhos para a família educar. Há um limite para a ocupação de uma região, pois os perigos são invisíveis e inúmeros.
Um amigo arquiteto, na mesa do bar, manifestou admiração pelos migrantes brasileiros que buscam melhores oportunidades. No calor do entusiasmo, afirmou não importar que 100 milhões venham habitar o Distrito Federal e o Planalto Central se aqui melhoram suas condições de vida comparadas com a da terra de origem.
Pedro de Montemor que o escutava não levou a sério o número proposto. É um exagero evidente.
− Cada imigrante encontrará, aqui, um perigo invisível, disse Montemor. Ultrapassado o limite invisível, os perigos invisíveis começam a se revelar. Não será mais prudente examinar os perigos da vida e aceitar limites, evitando ser barrado por um agente?.
Há limites pouco observados: água, áreas verdes, parques para caminhadas, ar puro para respirar, meios de comunicação confiáveis e transporte confortável. Esses e outros itens escondem perigos invisíveis que sugerem limites na ocupação de espaços urbanos.
Quando esses limites são ultrapassados, os perigos se manifestam na forma de segregação, discriminação, privilégios, pobreza, desigualdade, violência. As linhas dos limites se apagam. E, como se constata, hoje, no Distrito Federal e em Brasília, não há agentes suficientes para lembrar ao cidadão a existência de perigos invisíveis.
As perdas se lamentam no dia do enterro.

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