segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

DITADURA ECONÔMICA E SOCIAL

Pedro de Montemor insiste em dizer-me que somos governados por uma ditadura econômica e administrativa.
− Elegemos presidentes, governadores, deputados e senadores em boa fé democrática. O que fazem eles? Com a máscara da democracia elaboram, discutem e aprovam leis segundo seus interesses políticos e econômicos.
Sua indignação procede. Observe-se a recente lei que estabelece o Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT −, no Distrito Federal. As propostas sugeridas democraticamente pelas organizações de defesa do Projeto Lucio Costa para Brasília e por dezenas de ONG’s ambientalistas, em sua maioria, não foram incluídas no Plano.
Os deputados são íncubos e súcubos do poder ditatorial que nos governa com forte dose de cinismo. A ditadura é ordenada e legislada pelos interesses econômicos do grande capital e de interesses privados sob a justificativa do coletivo, quando não de benefícios para os pobres.
Os que acham que vivemos subordinados a uma democracia contentam-se com sobras. Aplaudem os que esparramaram migalhas coloridas pelos caminhos. Contentam-se com o sorriso e o abraço dos poderosos. Agradecem à carona que os devolve à casa para ouvir na TV os desmandos, os roubos e as maracutaias dos ditadores sem rosto.
A maioria do povo brasileiro está contente com o regime autoritário da economia e com o chefe da nação que a dirige. Mais de três quartos da população, segundo levantamento de opiniões, acreditam que é o Presidente quem realmente decide sobre nossa felicidade e sobre os destinos da economia.
Estão felizes os redimidos porque podem comer, ir ao supermercado e comprar a geladeira. A felicidade e o contentamento se fortalecem porque o sonho do carro zero se realizou. Ou porque a TV moderna e maior, o computador e o celular igualam, de certa maneira, o rico e o pobre. Freqüentar o bar da esquina ou o restaurante chinês, de vez em quando, é sinal de inclusão social ou do salto mágico para a classe média.
Nessa lista da felicidade não entra o direito de maior participação nas decisões políticas e econômicas. Ela se reduz ao fato de comprar mais e mais. Nessa lista não se inclui o “supérfluo” de ir ao cinema, ao teatro, ao concerto, às livrarias ou bibliotecas populares, embora a renda tenha aumentado.
Não constam nessa lista o incômodo do analfabetismo ou semi-analfabetismo, o incipiente aprendizado nas escolas primárias, a vergonha das epidemias e das filas nos hospitais, a violência da destruição ambiental, o desprezo pelo cumprimento das leis e a indiferença pela ética.
Não consta nessa lista o endividamento sistemático e aprisionador dos créditos e juros escorchantes nem se menciona o comezinho conselho da poupança na consolidação de qualquer patrimônio.
Estamos ainda no patamar de felicidade da sobrevivência, do contentamento primitivo da satisfação de necessidades básicas. É sobre esse comportamento submisso, indefeso e inofensivo que se exerce o poder das grandes empresas nacionais em cumplicidade com as transnacionais, de bancos públicos e privados, com a conivência do autoritário Banco Central e de um congresso fantoche na festa antipatriótica da especulação financeira. Unânimes, unidos ao governo estatal, determinam a hora e o nível das concessões e favores, pão e circo, balizadores da felicidade e do contentamento da população anestesiada e hebetizada.
A banda passa, os palhaços dançam. Das janelas caem nuvens de papel picado. É tempo de sorrisos. Mais um ano termina e os fogos fátuos saúdam a consolidação das instituições democráticas como nunca neste país.

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