sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

FALÊNCIA MÚLTIPLA

O planeta rola sem parar pelo espaço. Os anos passam, as estações mudam, os dias voam levando as horas de roldão. Marcam-se fatos, anotam-se repetições, examinam-se causas, tiram-se conclusões.
Sabe-se com relativa certeza, se não matemática, que alguns fenômenos da natureza vão se repetir. Pode-se prever quando, como, onde e até com qual intensidade.
Mas, na prática, esses conhecimentos não tornam as pessoas mais prudentes e mais conscientes. Os fenômenos naturais são conhecidos. Com esse conhecimento os cientistas não só os descrevem como avançam previsões de comportamento de leis físicas ligadas ao movimento dos astros, direção dos ventos, períodos de chuvas e secas.
Riscos e desastres têm ocorrido anualmente com intensidade crescente e em locais identificados. Há regiões que são naturalmente afetadas por ventos e chuvas intensas.
As pessoas, pela experiência acumulada de milhões de anos, desde o Dilúvio, não deveriam ocupar certas áreas. Os agrupamentos urbanos, coletivamente, esqueceram ou desprezaram essas singelas noções de segurança e proteção. Os indígenas, observadores da natuteza, constroem suas tabas em locais seguros, longe de inundações e protegidas do vento por cortinas de mato a seu redor.
A organização do Estado que, se presume, detém todas essas informações e pode usar todos os conhecimentos disponíveis em benefício dos cidadãos, está falhando escandalosamente. Há leis e organismos para controlar, orientar, fiscalizar, coibir e sancionar a multiplicidade dos atos do cidadão. As decisões pessoais, com raríssimas exceções, têm que se ajustar e obedecer a alguma lei aprovada e obter a autorização de algum órgão publico para conviver na comunidade.
Observe-se o funcionamento da saúde pública, da segurança, da educação, do trânsito urbano e viário, do comércio, da limpeza da cidade, da ocupação do solo, da proteção ambiental. Os comportamentos do cidadão afrontam a inteligência e desprezam os conhecimentos acumulados. É uma luta permanente para contornar as leis e adaptá-las ao individual contra o coletivo e a racionalidade.
Na hora do desastre, seja a inundação de uma cidade, seja o engarrafamento das ruas por milhares de carros individuais apela-se para o coletivo e para a solidariedade. Nesse momento, a sociedade civil tem peso maior que o do Estado. É o resultado da falência múltipla dos órgãos vitais do Estado, das comunidades, da organização social, dos cidadãos.
Diante da falência múltipla os remédios são impotentes, os conhecimentos, inúteis. O doente sobrevive e respira por aparelhos. A máquina substitui a alma.
A história da humanidade registra cemitérios que guardam escombros de civilizações que nos precederam.

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