sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

COMPRAR, COMPRAR

Uma economia se constrói com poupança e não com cartão de crédito e endividamento sistemático.
Estimular a compra compulsiva comprova uma aliança indecente com o desperdício, com o lucro dos bancos e das mega empresas, com a exploração do vazio humano e da irracionalidade. Comprar para salvar a economia, para garantir altos índices estatísticos e de aprovação popular é um crime contra o bom senso.
O Presidente da República aposta todas as fichas no espetáculo do crescimento para se redimir de seu passado de esquerda e da vergonha de ter sido oposição ao que hoje faz. Entrega-se de alma e corpo à obsessão de ser o único infenso e ileso de todas as falcatruas da vizinhança do poder.
Está convencido de que, para dar comida aos milhões de pobres do país, é necessário estimular os ricos a ganhar mais dinheiro. Estratégia que, segundo suas declarações, terá dois resultados imediatos: - aumenta-se o número de empregos cujo salário vai para o consumo compulsivo; − recolhem-se mais impostos para engordar as receitas e continuar a festa do gasto público ineficiente. Mas é festa. Toda festa supõe um gasto ineficiente. Consome-se, fala-se, ri-se, alegram-se os convivas, ficam os copos vazios e os pratos limpos. A cobertura do bolo para o encerramento da festa é feita com números estatísticos dogmáticos, indiscutíveis, conclusivos.
Ninguém ousa opor-se a eles, pois têm valor e força do mito. Pertencem à religião do consumo, do prazer de possuir e usufruir. Pouco se diz sobre o objetivo último e a conseqüência nefasta do investimento que supostamente gera crescimento. Nenhuma empresa é instituída para criar postos de trabalho. O empresário investe para ter o máximo de lucro possível segundo as circunstancias e facilidades que encontra ou exige. Incluem-se favores fiscais, perdão de dívidas, créditos fáceis, sonegação de impostos.
O primeiro corte de gastos, em circunstancias econômicas ou políticas adversas, é no departamento de pessoal. Ter mais empregados significa diminuir os lucros. Produzir mais com menos trabalhadores, eis a questão.
A ordem do Presidente de comprar, comprar para salvar a economia e estufar o crescimento é um contra-senso. Pretende-se evitar o desemprego pela via do consumo a qualquer preço. Não é demais repetir que a economia doméstica ou a nacional se fortalecem com poupança e não com gastança. A obsessão do crescimento desconsidera a fonte de todas as riquezas: os bens na natureza. As grandes populações, como a brasileira, demandam intensa exploração das riquezas naturais desde a água até o minério de ferro. O Distrito Federal é uma das vítimas dessa ânsia de ocupar os espaços das árvores, das nascentes e dos animais.
População e natureza são dois componentes que escapam ao raciocínio da economia atual e de cujas conseqüências a crise mundial está alertando. Um paradigma econômico diferente há de nascer. Não é possível que um país novo como o Brasil se deixe arrastar pelos equívocos ambientais da Europa do século XIX ou da China atual. Menos consumo e mais poupança. Racionalidade no uso das riquezas naturais, aproximação dos governos e da população ao convívio mais intenso com as possibilidades e oportunidades simples e duradouras – também ditas sustentáveis − serão decisões que o tempo e as crises nos obrigarão a tomar.
O mundo já é pequeno para tanta gente. A ordem de consumir, comprar, endividar-se revela desprezo pela natureza, ignorância ou má fé.
Presidente Lula, pare de mandar o povo gastar.

Nenhum comentário: