quarta-feira, 23 de abril de 2008

BRASÍLIA TE AMO

A avalanche de nababos e marajás, novos donos do poder deslumbrados, ladrões do erário, corruptos e corruptores, suscitou corajosos defensores de Brasília. Otimistas, demonstram diariamente a grandeza de seu povo, a beleza de sua arquitetura, a salada de comidas e bebidas com todos os sabores do país, o sotaque de todos os acentos regionais.
Jogam na cara da opinião externa, forjada no diz-que-diz-que e na ignorância, que foi o resto do país que mandou os corruptos para cá.
Nós que viemos ao Planalto Central há várias décadas e os que nasceram aqui somos privilegiados por fazer parte do sonho de JK.
Brasília é esta beleza arquitetônica debaixo de um céu imenso, com o mais belo pôr do sol do Brasil. Tudo aqui é verde na época da chuva e seco no período de estiagem.
Essas largas e longas avenidas recebem de margens abertas tantos carros quantos os bem-pagos habitantes de Brasília queiram nelas despejar. Logo chegaremos ao milhão de automóveis e Brasília continuará linda. Não importa que os engarrafamentos diários aconteçam em todas as vias do DF. É apenas um sinal que a cidade está se adaptando ao império do transporte individual.
O brasiliense está sendo preparado, no Plano Piloto e nas cidades satélites, a amar sua cidade. Colunistas de jornais, de rádio e TV nos ensinam que é preciso desenvolver o otimismo. Esse otimismo que vê no câncer do seio da mãe um sinal do amor de Deus e uma prova para missões mais sublimes.
O que amamos, afinal, nessa quarentona Brasília? Os monumentos do centenário Niemeyer? Quero lembrar que não há registro de que o mais famoso arquiteto brasileiro tenha plantado uma só árvore, em Brasília, em substituição às que foram derrubadas para levantar a catedral, o estranho museu-sarcófago e a biblioteca sem livros.
Amamos o traçado em cruz de Lúcio Costa? As largas avenidas? Os palácios do poder? As árvores retorcidas? As queimadas que os habitantes do Distrito Federal provocam, a cada ano, por sua imbecilidade, ignorância e amor a Brasília?
Brasília fascina por mais que isso. É o imenso silêncio que paira sobre ela que inspira afeto, lhe dá grandeza e generosidade.
Brasília atrai pelo poder que vende enganos, ilusões e mentiras.
Brasília encanta porque se dirige ao Ocidente, onde morre o Sol, símbolo de nossa trajetória, minha e de toda a humanidade.
Não vamos para o Oriente. Vamos para o Ocidente, para o que vem mais adiante.
Brasília é apaixonante porque nos aponta o absoluto terreno. Vamos daqui para a eternidade do universo.

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