segunda-feira, 5 de maio de 2008

PAÍS SÉRIO

- Vai-se vivendo.
É meia-verdade ou meia-mentira. Mas é o que responde o homem comum quando se lhe pergunta como vai. O certo seria “vai-se morrendo”. Mas o otimismo existencial não permite dizer toda a verdade.
Tomamos o gosto pela meia-mentira e ela nos faz bem. Mentimos e ouvimos mentiras de norte a sul, de ricos e pobres, de governos e governados.
Há quarenta e quatro anos, em visita ao Brasil, De Gaule, presidente da França, ao ver e ouvir o que se fez e se disse, nos poucos dias em que esteve rodeado de políticos e militares, declarou a jornalistas “Ce n’est pas un pays sérieux”.
Quarenta e quatro anos depois, um grupo de analistas econômicos concedeu ao Brasil a medalha da seriedade, quer dizer, deixou-se livre o caminho do especulador da bolsa.
O Brasil tornou-se um país sério ao garantir a entrada e a saída segura de trilhões de dólares dos fundos de pensão esparramados pelo mundo. Para mover trilhões é preciso ser sério. Pela prática bancária, para cada real emprestado o banco leva outro ou outros. Assim, para cada trilhão que passa por aqui, graças à seriedade do país, os investidores levarão outro ou outros. O bom funcionamento do capitalismo financeiro precisa de seriedade. Com o dinheirinho da poupança do cidadão comum é diferente. Para 100 reais poupados, obtém cinqüenta centavos.
De onde viria o dinheiro da corrupção, da farra política, do roubo público, do lobismo descarado, senão do grau de seriedade de governantes e cidadãos?
Os jornais estamparam os sorrisos do presidente Lula, do ministro Mantega, do banqueiro Meireles ao saberem do troféu de seriedade econômica. E o povo ri com eles. Nunca neste país os pobres estiveram tão bem. E não precisa muito para que o povo se sinta bem e apóie os que se ocupam dele. R$ 15,00 (quinze reais) por mês é a dose que satisfaz os 55 milhões de beneficiários do programa social Bolsa Família que distribui R$ 10 bilhões por ano. É pouco?
Conquistamos o grau de seriedade para o funcionamento da bolsa de valores, dos empréstimos consignados a aposentados, dos créditos a prazos longos para compra de carros, geladeiras, televisores, celulares.
É tempo de rir. É tempo de otimismo.
Somos otimistas. Podemos aplicar a mesma seriedade que garante o estrepitoso lucro dos bancos e da bolsa de valores para conter o consumo de drogas, a matança no trânsito, superar preconceitos, acabar com a impunidade de criminosos públicos que riem de nossa boa fé.
Daqui a cinqüenta anos, a Unesco nos dará a medalha da seriedade porque a educação se tornou prioridade nacional e eliminamos o analfabetismo. A Organização Mundial da Saúde declarará que somos um país sério porque eliminamos a dengue, a malaria e nossos hospitais não serão mais depósitos de doentes sem remédios.

Nenhum comentário: