terça-feira, 8 de abril de 2008

EMPRÉSTIMO DA PREVIDÊNCIA

Recebi, no dia 9 de novembro, carta datada de 29 de setembro de 2004, assinada pelo Presidente da República, senhor Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Ministro de Estado da Previdência Social, senhor Amir Francisco Lando. Comunicaram-me o direito de obter empréstimos bancários. O valor da prestação não poderia exceder de 30% do meu benefício mensal com juros entre 1,75% e 2,9%. “A medida visa atender melhor às necessidades do dia-a-dia. Por meio de ações como esta, finaliza a carta, o Governo quer construir uma Previdência Social mais humana, justa e democrática”. Isto é, endividando o cidadão.
A boa vontade de um governo paternalista, a ingenuidade e a malícia da medida comovem os incautos. Tudo está posto de cabeça para baixo. O bom senso tem alertado insistentemente que o caminho correto de uma economia é a poupança e não o endividamento. E este, quando absolutamente necessário, dever ser submetido aos rigores da capacidade de poupar.
Os assessores e os altos burocratas do Estado se doutoraram na escola dos grandes financiamentos, indiferentes à capacidade de pagamento. Quando não se tem para pagar, desde os tempos de Tutankamon, recorre-se aos impostos sobre tudo: produção, consumo, renda, propriedades, depósitos, saques, empréstimos e dívidas. O projeto de Lei do Governo, aprovado pelo Congresso, revela a falência do poder e a submissão impotente ao sistema que nos aprisiona ao código dos mais fortes, aos donos dos empréstimos. Reservam-se o direito de debitar o valor da parcela garfando a conta o mutuário.
Um aposentado que recebe da Previdência R$ 415,00 não tem o que poupar. Terá direito a uma prestação mínima de R$ 124,50. No próximo mês, terá R$ 289,50 para o dia-a-dia. Suspeito que não comprará feijão e arroz com o empréstimo. Um banco poderá oferecer-lhe três vezes o valor do benefício mensal. Acrescentará a seu patrimônio uma geladeira ou um fogão. Terá menos o que por nela ou o que cozinhar nele. O Governo agiu assim porque sabe que milhões de aposentados se queixam que o dinheiro não chega até o fim do mês.
Imaginemos que as cruciais circunstâncias do cotidiano permaneçam agravadas e que 10 milhões de aposentados recorram a seu direito permitido pela Lei e peçam um suave empréstimo de R$ 250,00. Os bancos jogariam no comércio R$ 2,5 bilhões e embolsariam o correspondente entre 1,75% e 2,9%. Por pudor e respeito aos aposentados, abstenho-me de dar a cifra do lucro dos bancos.
Consolidam-se assim as estruturas de riqueza e de pobreza. Os pobres serão sempre os bois que distraem as piranhas enquanto a boiada gorda chega à outra margem que tanto pode ser a Suíça, as ilhas Caimã ou as mansões dos refinados recantos deste Brasil de amor e de esperança que à terra descem.
Festejamos tola e cinicamente o crescimento para cima, não para baixo. A árvore que expande seus galhos contra o céu confia nas raízes profundas que ninguém vê. E quando as raízes morrem, os ventos devastam a floresta.

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