segunda-feira, 21 de abril de 2008

BRASÍLIA SUL-NORTE

Os que vieram a Brasília para amá-la, entristecem-se com o caos em que os adoradores do automóvel a transformaram.
Por uma falha de origem, o caos do trânsito continuará sem perspectivas de acabar. Os que pensaram e definiram o desenho da cidade vinham do Sul. A circulação das pessoas e o movimento da urbe se concretizaram de Sul a Norte e de Norte a Sul. A direção Leste-Oeste ficou presa entre os eixos de todas as avenidas lineares, com a exceção da Esplanada dos Ministérios, que é uma espécie de cul-de-sac onde se refugia o poder.
O transporte público, inadequado e ineficiente obedece essa mesma direção, o que estimula o uso de carros particulares, entupindo os acessos às quadras residenciais.
A filosofia arquitetônica da arte pela arte produziu uma estética sem ética. Preencheram-se os espaços com monumentos belos, alguns e discutíveis, outros. As avenidas passam por eles, extensas, largas. O cidadão os vê, os saúda e deles se despede. Não há um banco para sentar-se e admirá-los.
A cidade foi planejada para nela entrar e dela sair. O cidadão não está convidado a ficar nela, senti-la, amá-la e transar com ela.
Brasília parece ter sido concebida, desenhada, concretizada por uma filosofia arquitetônica infantil de ciranda-cirandinha. Para chegar da Avenida das Nações ao Cine Brasília ou aos escritórios da CEB, nas quadras 900’s é preciso rodar a cidade ou perder-se em dezenas de retornos.
É essa concepção de engenharia urbana que produz o caos do trânsito praticamente insolúvel de Brasília.
Todas as medidas propostas e executadas até o momento tendem a tornar o caos ainda mais caótico. As passarelas de pedestres sob os eixos têm o claro objetivo de favorecer a velocidade dos carros na direção Sul-Norte, Norte-Sul. A proteção ao pedestre é meramente incidental, se não depreciadora do cidadão.
Um arquiteto conhecido, falando do caos do trânsito brasiliense, perguntou-me o que um sociólogo proporia para facilitar a circulação do pedestre que não quer usar carro particular para deslocar-se na direção Leste-Oeste-Leste.
- Pensar uma Brasília Leste-Oeste, com transporte público adequado e eficiente, respondi. Mas para isso é preciso substituir os atuais engenheiros e arquitetos contaminados pela expansão do tráfego de automóveis particulares, por engenheiros e arquitetos que pensem com alma de pedestre e de usuários de transporte público.

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