sexta-feira, 11 de abril de 2008

GELADEIRAS MODERNAS

AS MEIAS-VERDADES

Nos últimos tempos, estamos sendo submergidos por uma avalanche de informações, resultados de pesquisas, glorificação de índices de crescimento da economia e milagres administrativos sem precedentes “neste país”.
É a técnica de marketing das meias-verdades que acabam por ser tomadas como verdades absolutas. Meias-verdades ditas com convicção e apresentadas como definitivas, em via única. E antes que alguém possa contestá-las, outras afirmações peremptórias seguidas por promessas, projetos e grandes números assumem o valor de fatos consumados. Temos engolido escândalos de mensalões, anões, reeleições, dossiês, cartões corporativos, fazendas de gado, sanguessugas, anacondas como se fossem a normalidade do país.
Os espíritos superiores, iluminados pelo poder, determinam os fatos e as razões que os justificam, nivelando por baixo a capacidade alheia de pensar, compreender, julgar e decidir.
Um exemplo dessa tecnologia de marketing da comunicação superficial e paternalmente otimista veio à luz, hoje.
O ministro das Minas e Energia comunica a preparação de um programa que estimula a troca de 10 milhões de geladeiras antigas por outras mais modernas. Segundo ele, o destino desse produto será a população de baixa renda.
Estarão incluídos nessa população de baixa renda os 11 milhões de famílias beneficiárias do Bolsa Família. A ilação é lógica. Se recebem dinheiro para comprar alimentos, precisam de geladeira para guardá-los. O Presidente perguntou, irritado e excitado, diante de uma platéia embevecida, por que os pobres não têm direito a comprar geladeira, máquina de lavar e celular.
Nesse tom, o ministro esclareceu que “O objetivo é social, de dar a essa população acesso a geladeiras mais modernas e econômicas, que vão gerar redução na conta de energia”. Deu ao mesmo tempo a receita. Os modelos antigos serão dados como entrada, revendidos depois pelas lojas às metalúrgicas.
Uma comunicação oficial repleta de meias-verdades. As outras meias-verdades não proferidas se escondem na indústria eletrodoméstica, no estímulo ao consumismo obsessivo e na cascata de empréstimos que desembocarão galhardamente no PIB, um dos faunos da economia capitalista.
Justifica o ministro que 27% da energia é gasta pela geladeira antiga e esse custo pesa sobre as sofridas costas da pobreza. A que correspondem os outros 73%? Chuveiros obsoletos, congeladores primitivos, ferros de passar medievais, televisores preto e branco? Por que não trocar toda essa velharia eletrônica por aparelhos modernos? População de baixa renda existe com direito assegurado a se endividar.
O ministro conclui sua comunicação com um deboche:
“Não há nenhuma intenção de que o programa tenha participação nas próximas eleições. Nossa preocupação é principalmente social e também energética.”

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