segunda-feira, 12 de setembro de 2022

ANO DO CERRADO OU DIA?

 

ANO DO CERRADO OU DIA?

 

Ontem, festejei o Dia do Cerrado, visitando as nascentes e admirando a tenacidade das árvores, ouvindo a incansável sinfonia dos sabiás e os gritos alarmantes das curicacas. O Cerrado atravessa com paciente coragem a rigorosa estiagem, de mais de 140 dias (em maio, só houve um dia de chuva), açoitado por ventos constantes, madrugadas frias (10 a 12 graus), pouco orvalho e umidade máxima à noite, em 77%, baixando nas horas da tarde a 45% em plena mata de galeria. No dia do Cerrado, no Sítio das Neves, as temperaturas foram excepcionais: 27 graus à sombra de árvores a 31 graus no campo aberto.

As nascentes viram suas águas se aprofundarem. O curso dos córregos que abastecem o Ribeirão das Lajes e o Rio Descoberto chegaram ao volume mínimo, ao redor de três metros cúbicos/dia. Assoreamento e poluição, durante esses 62 anos de intensa ocupação desordenada do Cerrado, estão mostrando como se trata de forma ignorante e desleal o espaço de vida para a maior biodiversidade do planeta. Se fosse medido o efeito do assoreamento no reservatório do Descoberto, o brasiliense saberia que seu estoque hídrico atual não seria de 50% como propalado.

O Distrito Federal e todo o Cerrado está em situação de risco hídrico, como dizem os biólogos especialistas. Neste período, destinado ao descanso do Cerrado, a população do Distrito Federal o maltrata com duas pragas torturadoras: LIXO E QUEIMADAS.

E a NovaCap (Parques e Jardins) continua podando árvores, diminuindo a umidade do ar. O erro é original. As árvores, para a administração do GDF, são apenas embelezamento, não são proteção ambiental para fortalecer nascentes. As árvores são plantadas sem conhecer a genealogia da planta e sem conhecer o solo que mantinha vegetação natural arrasada.

Tenho certeza de que os funcionários da Novacap não pensaram nos resultados da poda de árvores. Vamos ajudá-los a pensar com um exercício sobre o volume de madeira cortada das árvores. Se cortaram, por ex. 100 metros cúbicos de madeira, significa 100 metros cúbicos de água. As chuvas que vão cair poderiam ser captadas por esses 100 metros cúbicos de galhos e folhas, mas já não estão nas árvores. Caem diretamente no chão e encontram o GRANDE ALIADO, a impermeabilização seca e as águas vão para o Lago e dali para o São Bartolomeu. E como nenhum rio vai sozinho ao mar, ele se junta a outros para levar solo brasileiro à baía platina. O Clima de Brasília será ainda mais seco no próximo ano e, certamente, com mais poda e mais impermeabilização. A cadeia da ignorância assola o país.

Não basta poupar água. É preciso proteger e respeitar a organização do Cerrado, cuidando das nascentes águas acima.

 

11.9.2022

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