ANO DO CERRADO OU
DIA?
Ontem, festejei
o Dia do Cerrado, visitando as nascentes e admirando a tenacidade das árvores,
ouvindo a incansável sinfonia dos sabiás e os gritos alarmantes das curicacas. O
Cerrado atravessa com paciente coragem a rigorosa estiagem, de mais de 140 dias
(em maio, só houve um dia de chuva), açoitado por ventos constantes, madrugadas
frias (10 a 12 graus), pouco orvalho e umidade máxima à noite, em 77%, baixando
nas horas da tarde a 45% em plena mata de galeria. No dia do Cerrado, no Sítio
das Neves, as temperaturas foram excepcionais: 27 graus à sombra de árvores a
31 graus no campo aberto.
As nascentes
viram suas águas se aprofundarem. O curso dos córregos que abastecem o Ribeirão
das Lajes e o Rio Descoberto chegaram ao volume mínimo, ao redor de três metros
cúbicos/dia. Assoreamento e poluição, durante esses 62 anos de intensa ocupação
desordenada do Cerrado, estão mostrando como se trata de forma ignorante e
desleal o espaço de vida para a maior biodiversidade do planeta. Se fosse
medido o efeito do assoreamento no reservatório do Descoberto, o brasiliense
saberia que seu estoque hídrico atual não seria de 50% como propalado.
O Distrito Federal
e todo o Cerrado está em situação de risco hídrico, como dizem os biólogos
especialistas. Neste período, destinado ao descanso do Cerrado, a população do Distrito
Federal o maltrata com duas pragas torturadoras: LIXO E QUEIMADAS.
E a NovaCap (Parques e Jardins) continua podando árvores,
diminuindo a umidade do ar. O erro é original. As árvores, para a administração
do GDF, são apenas embelezamento, não são proteção ambiental para fortalecer nascentes.
As árvores são plantadas sem conhecer a genealogia da planta e sem
conhecer o solo que mantinha vegetação natural arrasada.
Tenho certeza de que os funcionários da Novacap não
pensaram nos resultados da poda de árvores. Vamos ajudá-los a pensar com um
exercício sobre o volume de madeira cortada das árvores. Se cortaram, por ex.
100 metros cúbicos de madeira, significa 100 metros cúbicos de água. As
chuvas que vão cair poderiam ser captadas por esses 100 metros cúbicos de
galhos e folhas, mas já não estão nas árvores. Caem diretamente no chão e
encontram o GRANDE ALIADO, a impermeabilização seca e as águas vão para o Lago
e dali para o São Bartolomeu. E como nenhum rio vai sozinho ao mar, ele se
junta a outros para levar solo brasileiro à baía platina. O Clima de Brasília será ainda mais seco no próximo
ano e, certamente, com mais poda e mais impermeabilização. A cadeia da
ignorância assola o país.
Não basta
poupar água. É preciso proteger e respeitar a organização do Cerrado, cuidando
das nascentes águas acima.
11.9.2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário