UnB – ECOSSOCIOLOGIA
Revista de Estética e Semiótica
EUGÊNIO GIOVENARDI – Sociólogo
INTRODUÇÃO
ECOLOGIA é o conhecimento e o
reconhecimento da casa da natureza, de sua organização, suas leis orgânicas e
físicas que regem todos os seres vivos, humanos e não humanos por ela gerados. As
relações e interações complexas entre todas as espécies da biodiversidade as impulsionam
a preservar a vida e reproduzi-la num tempo indeterminado. Cada espécie se
relaciona e comunica no âmbito interno de seus componentes e com outras
espécies das quais depende para sobreviver e reproduzir. O relacionamento
interativo e interdependente entre os seres vivos abrange aspectos sociais e
orgânicos formando uma corrente em que todos dependem de todos. As vidas se
alimentam de vidas.
Os pássaros interagem com membros de sua
espécie e dependem de outros seres vivos da natureza para se alimentar,
sobreviver e reproduzir. Utilizam as árvores para fabricar seus ninhos,
protegem-se de predadores, formam quadrilhas com outros pássaros para se
defenderem de gaviões ou de espécies ovívoras ─ gralha-cancã, teiú e outros
répteis. Espalham sementes de frutas de sua dieta e contribuem para o
reflorestamento e a regeneração dos ecossistemas.
Quais e como se apresentam as relações de
interdependência orgânica e de interação social e cultural da espécie humana no
conjunto da biodiversidade? O filósofo e sociólogo Edgar Morin classificou o
ser humano como integrante de uma parte específica da biodiversidade: “Quem
somos nós? Somos animais da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da
família dos hominídeos, do gênero homo, da espécie sapiens.”
Aparentemente, o homo sapiens é um estranho no ninho da biodiversidade. A evolução
cerebral do ser humano, ao longo de milênios, lhe proporcionou capacidades
especiais para se relacionar com os demais seres vivos da natureza. Impulsos de
autonomia decisória o autorizaram a ter comportamentos autoritários a ponto de
tentar transgredir a auto-organizacão da natureza, dominar os seres não humanos
e até agredir os de sua espécie.
A observação
das relações orgânicas e da objetiva comunicação social entre todos os seres
vivos se tornou um método adequado e eficaz para ampliar a compreensão do
relacionamento e da interação da espécie humana com todas formas de vida geradas
pela natureza. Durante mais de quatro décadas buscando, numa área de Cerrado
devastada pela mão humana, minha origem existencial e as vinculações orgânicas
com a natureza, percebi, com meridiana clareza, a sociabilidade de todos os
seres vivos animais e vegetais. Senti-me apenas mais um ser social convivendo e
falando com outros seres sociais.
Não há mudos nem surdos na natureza. Todos
falam e todos ouvem. Todos têm direito à vida e lutam para mantê-la. Ao
observar as árvores, ao ver o olho d’água manar e ouvir os pássaros cantarem,
ocorreu-me o termo ecossociologia para expressar as relações sociais de todos
os seres vivos. O termo me propiciou formular conteúdos de crítica do conhecimento
relativo à natureza das coisas para a crítica do comportamento humano, frente
ao conjunto de vidas compartilhadas num mesmo ecossistema. Comecei a utilizar o
termo ecossociologia em 2015. Conhecia os termos ecobiologia e ecopsicologia.
A ecobiologia demonstra que a pele é um
ecossistema em constante evolução. Interatua com o ambiente e, por isso, os
bens e mecanismos naturais devem ser preservados. A ecopsicologia observa
e analisa o contato direto da pessoa com o ambiente natural, atitude que estimula
a relação com partes menos conhecidas e mais vitais do ser humano. Todos os
seres vivos se comunicam, se relacionam com membros de sua espécie e entre
espécies. Percepções favoráveis e desfavoráveis perpassam o cérebro
humano, situações agradáveis e desagradáveis nesses contatos com outros seres
vivos que circundam a pessoa alimentam sua interação com o conjunto multiforme
da natureza. A multiplicidade de vidas fala ao mesmo tempo. Os seres vivos
perguntam e respondem, pedem e oferecem, doam e recebem. O conceito básico da
sociabilidade dos seres vivos amplia a compreensão de como as vidas se
inter-relacionam no universo. Todos os seres vivos são compostos dos mesmos
elementos materiais: hidrogênio e carbono, oxigênio e azoto. Estas semelhanças
físicas, sentidas e expressas pelo cérebro humano, auxiliam nossa imersão na
natureza, vivificam a comunicação e a relação social com todos os seres vivos.
Inclino-me a integrar o consórcio eco-bio-psico-socio-logia.
CONCEITUAÇÃO
A ECOSSOCIOLOGIA se propõe a observar,
conhecer, identificar e descrever o cumprimento das leis orgânicas e físicas
dos seres que compõem a biodiversidade, a interação social e a interdependência
de todos os seres vivos em seus respectivos ecossistemas. A natureza é uma
sociedade complexa, auto-organizada, fundamentada na sociabilidade e na
comunicação orgânica de todos os seres vivos.
O propósito da ecossociologia é observar e
estudar a organização das espécies, relacionar os comportamentos e
interdependências de todos os seres vivos que habitam a mesma casa, num mesmo
espaço físico, o ecossistema. A casa grande é o planeta Terra e a casa pequena
é o ecossistema de um bioma que abriga uma parte diversificada de seres vivos.
O processo metodológico da ecossociologia se fundamenta em ações de percepção
da natureza para o conhecimento interativo e propicia comportamentos coerentes
e orgânicos entre a espécie humana e os demais seres vivos.
Ecossociologia é uma ferramenta
metodológica de observação e estudo crítico das inter-relações, da interação e interdependência
das espécies vivas, humanas e não humanas, que habitam um mesmo ecossistema. A
intervenção de todos os seres vivos, em busca da sobrevivência e reprodução,
modifica os ecossistemas e, se observadas as leis orgânicas da natureza, eles
se regeneram ao longo do tempo.
As intervenções mais agressivas aos
ecossistemas são debitadas à espécie humana nos espaços da agricultura,
urbanização e indústria química com forte incidência na poluição das águas e do
ar. A urbanização crescente, em nossa
época, ao lado da agricultura extensiva, se tornou uma das ações mais
impiedosas da espécie humana na intervenção e modificação de ecossistemas
frágeis e indefesos. Montanhas, vales, margens de lagos e rios, com ocupações
urbanísticas desordenadas, perturbam incessantemente a regeneração dos
ecossistemas com efeitos perversos sobre todos os comportamentos dos seres
humanos e não humanos. Ventanias, tempestades e inundações tem causado perdas
de vidas e de equipamentos essenciais aos moradores dessas áreas. O
confinamento, a expulsão, a morte e a extinção definitiva de espécies são
consequências indesejáveis para todos os componentes da biodiversidade.
Doenças, epidemias, sofrimento e morte atingem a todas as espécies ─ vegetais,
animais e a nobre espécie humana ─ e mais duramente as de frágeis resistências
com menos recursos para obter da natureza os remédios necessários à
sobrevivência.
A sociabilidade é característica de todos
os seres vivos. Torna-se, pois, imprescindível compreender a linguagem das
plantas e dos animais, para expressar atitudes e comportamentos sociais da
espécie humana no convívio dos seres vivos e responder a suas indagações. A
auto-organização da natureza, a organização biológica das espécies vivas, sua
evolução, reprodução e sobrevivência põem limites, ainda que nem sempre
aceitos, à organização social e cultural da espécie humana. Configura-se, nessa
interação social, a relação intersubjetiva, sujeito a sujeito, contrastando com
a relação sujeito/objeto meramente econômica da exploração dos bens da
natureza, denominados pragmaticamente recursos.
CONJUNTO ORGÂNICO
As relações sociais da espécie humana
estão ligadas a todas as demais formas de vida da flora e da fauna, a elementos
físicos e químicos do universo, unidos num imenso organismo de partes
interdependentes. Astros da noite, rios, oceanos, lagos, cachoeiras, chuvas,
neves, árvores, pássaros, animais selvagens e domesticados e bilhões de insetos
afetam, com diferente intensidade e forma, a convivência dos indivíduos de um
grupo e a da variedade de grupos no conjunto dos seres vivos.
A organização comunitária dos diferentes
grupos vivos – a biocomunidade – obedece a leis biológicas comuns,
especificamente às que regem a conservação da vida, isto é, a busca do alimento
e a reprodução da própria espécie. É o traço indelével da igualdade de direito
à vida de todos os seres vivos, não importa o tamanho, a forma ou sua função
teleológica. A natureza dispõe de imensa variedade, embora limitada, de
alimentos para a conservação de todas as espécies e, consequentemente, para sua
reprodução, observados os limites do crescimento das populações.
Dois processos são inerentes à conservação
e reprodução da vida: cooperação e competição. Esses dois processos, em ação
permanente e contínua, são monitorados por controles genéticos, instintivos,
sociais e culturais, no que tange a espécie humana. Os controles genéticos são
inerentes ao sistema natural, administrados no âmbito de cada espécie e
compartilhados por outros grupos de espécies que dividem o mesmo espaço. Todos
cooperam e competem entre si para manter-se vivos, empurrados sem apelação por
uma energia vital imanente.
A supremacia e a preponderância de
espécies sobre outras ou de indivíduos de uma espécie sobre seu grupo, dependem
da auto-organização e da aceitação de regras do jogo social que se estabelecem
na convivência temporal dos membros. O crescimento populacional de uma ou
várias espécies pode ser determinante para o equilíbrio ou desequilíbrio da
conservação e reprodução de outras espécies de um mesmo bioma ou de um conjunto
de biomas da casa grande. A casa comum a um determinado grupo de espécies pode
se tornar pequena para abrigar uma espécie ou uma variedade competitiva de
espécies.
Um dos fenômenos originados pela
competição na busca de alimentos necessários para a reprodução é a migração
sazonal ou definitiva de espécies vivas. As aves e a espécie humana são dois
grupos susceptíveis de migração, especialmente quando o superpovoamento de uma
região limita a coleta de alimentos. Muitas espécies são expulsas de seu
hábitat por perderem a fonte de alimentação açambarcada por grupos invasores.
O sistema de controle populacional e a
demarcação dos territórios ocupados são determinados pela imposição do mais
forte e pela função predatória de uma espécie sobre outra. Os conflitos
originados da conservação e reprodução no interior de uma espécie viva afetam
sua segurança e coesão cujas consequências podem causar seu desaparecimento ou
serem dominadas por outras espécies.
A função predatória no conjunto da
natureza – controle e conflito entre espécies - pertence à dinâmica da
perpetuação equilibrada da vida. A defesa contra os predadores pode reunir
indivíduos de diferentes espécies. É comum observar-se a formação de uma
brigada de pássaros de diferentes espécies, para expulsar gaviões e aves de
rapina de seus territórios em defesa de seus filhotes.
O equilíbrio no crescimento de uma
população viva se estabelece de muitas formas: escassez de alimento, aborto do
embrião, suspensão temporária do acasalamento, mortalidade precoce, abandono
dos nascidos, luta fratricida, doenças bacterianas, canibalismo, entre outras
razões (aranhas fêmeas e louva-deus devoram os machos após a copulação). Para a
espécie humana, além dos fenômenos físicos arrasadores, há milênios
mencionam-se: pestes, epidemias, pandemias, guerras, agressões mortais entre
grupos ou indivíduos do mesmo grupo, acidentes fatais em terra, mar e ar. A
ampliação da promiscuidade entre a espécie humana e as espécies domesticadas e
selváticas, compartilhando o mesmo ecossistema, intensifica a interação dos
seres vivos e, consequentemente, a difusão quase incontrolável de endemias e
epidemias.
INTERDEPENDÊNCIA
A lei biológica da conservação da vida no
planeta estabelece a inevitabilidade da interdependência das espécies, como se
todas elas fossem um único organismo em que uma parte alimenta a outra. Esse
organismo vivo, subdividido em espécies, subsiste sob a inquestionável lei da
natureza: a vida se alimenta de vidas. Esta corrente de perpetuação da vida por
outras vidas embute, sutilmente, fortes doses de sofrimento físico e emocional
compartilhado por todos os seres vivos. (A cobra come o rato, a seriema come a
cobra, o caçador abate a seriema, o produtor se alimenta do animal que criou,
ou do pé de alface que plantou).
O crescimento populacional da espécie homo
sapiens não atingiu ainda o grau de racionalidade necessário, compatível com os
limites da oferta de bens naturais dos diferentes biomas, que ele comparte com
milhares de outras vidas. O salto mortal do crescimento da população humana pôs
em risco sua sobrevivência. No começo da década de 1970 (The Population Bomb, Paul Ehrlich, 1968), a população humana era de
3 bilhões. Os 7, 9 bilhões de pessoas que, em 2022, consomem mais de três
quartos da área do planeta insuficiente para alimentar toda a biodiversidade. A
fome flagela um sétimo da população mundial em países ricos e menos
desenvolvidos. Estudos da Organização das Nações Unidas (Relatório "World Population Prospects 2022”) estimam que a
população mundial pode alcançar a espantosa cifra de 10,4 bilhões até o final
do século 21, se métodos racionais de contenção e diminuição demográfica não
forem praticados em todos os países. A ocupação dos espaços, ao longo de
milênios, o desflorestamento para a produção de alimentos e formação de
assentamentos urbanos avassaladores perturbaram severamente a biodiversidade,
expulsando ou eliminando espécies vivas. A defaunação silenciosa de florestas é
uma tragédia.
A alternativa da domesticação de sementes
e animais deu à espécie humana uma sobrevida e uma perigosa percepção de
domínio absoluto sobre a natureza. Sua caminhada, porém, se viu atribulada por
imensas dificuldades de sobrevivência igualitária entre indivíduos de sua
espécie e de diferentes espécies em todos os quadrantes do planeta. A
surpreendente capacidade de adaptação climática da espécie humana e o
desenvolvimento evolutivo do cérebro e das mãos a levaram a um equívoco de
interpretação no uso dos bens naturais a ponto de alimentar convicções e
certezas de que ela pode e deve dominar outras vidas. O planeta Terra não é
propriedade de nenhuma espécie. É um espaço livre no qual viceja o milagre da
vida. Os fatos históricos transmitidos de geração em geração, há milênios, se
consolidaram em oráculos atribuídos a um ser sobrenatural que ordenou: “Crescei
e multiplicai-vos. Dominai a Terra” (Gênesis).
A interdependência dos seres vivos não só
está baseada no funcionamento cerebral e orgânico de cada forma de vida. Ela se
fundamenta no parentesco evolutivo de todos os seres vivos pois nascemos todos
da mesma semente vital. Cabe às espécies, com capacidade cerebral mais
desenvolvida, compreender a vida no universo. Adequar comportamentos e atitudes
em relação aos bilhões de seres que habitam a mesma casa comum. É o que se espera
e se deseja da espécie homo sapiens diante do conjunto de habitantes da
biocomunidade do planeta Terra. O princípio da precaução vige permanentemente,
pois estamos ainda diante de uma incógnita sobre como sentem e pensam as
árvores e os animais.
ATITUDES E COMPORTAMENTOS
A aceitação de alguns valores universais contribui
para a compreensão da vida em cada bioma ou conjunto de biomas que, há milhões
de anos, congregam biocomunidades em diferentes ecossistemas. Eles também
auxiliam na avaliação do impacto da intervenção e da pegada da espécie humana
em seus respectivos biomas e ecossistemas específicos.
Registram-se alguns valores sociais que as
pessoas determinam ou aceitam para se relacionar com outros seres vivos não
humanos, e cujas relações se refletem na convivência humana. Animais de
estimação ou paisagens naturais preservadas criam relações entre pessoas e
demais seres que pertencem a esse ciclo de convivência. Valores ecológicos
refletem a interdependência de todos os seres de uma biocomunidade, com ênfase
na água, nas plantas, nas aves e milhares vidas invisíveis que compões a dieta
natural da biodiversidade. Valores econômicos, nascidos da administração e uso
dos bens naturais destinados à conservação e reprodução de todas as espécies se
manifestam com diferentes interpretações, nem sempre igualitárias, que
favorecem uns em detrimento de outros. Sejam, talvez, os mais difíceis de serem
aplicados, pois dependem quase que exclusivamente dos interesses e
conveniências da espécie humana. Valores de cosmovisão com força conceitual
para equacionar um sistema de compreensão universal e holístico sobre a
preservação da vida no planeta. Estes valores dependem exclusivamente da
consciência do homo sapiens sobre a interação e interdependência de todos os
seres vivos.
É necessária especial atenção aos
processos de cooperação e competição, pois eles perpassam os comportamentos
vitais de todos os seres vivos. Estima-se que a espécie humana (homo sapiens),
há 40.000 anos apenas, apoderou-se autoritária e definitivamente das riquezas
do planeta e as administra em seu proveito na qualidade de único proprietário e
usuário, como se os elementos para sua sobrevivência fossem exclusivos,
infinitos e ilimitados. É desejável que a espécie humana possa evoluir na
compreensão dos conflitos diários entre sua sobrevivência e a de outras formas
de vida. E, em consequência, praticar modos de convivência entre todos os seres
vivos, compatibilizando os tempos da espécie consciente com a organização
biológica e social de outras formas de vida.
ITENS METODOLÓGICOS
Nas visitas a locais escolhidos de um
bioma e dos ecossistemas específicos, é desejável e conveniente que o passeio
pela natureza se revista de uma postura de silêncio científico. A linguagem dos
seres vivos se faz pela presença, pela forma e pela estética no local que
ocupam. Os momentos de discussão serão posteriores aos de observação e registro
dos fatos recolhidos.
Entre outros cuidados, sugere-se:
·
Prestar atenção aos convites da paisagem ao
penetrar em seu espaço.
·
Deambular, parar, olhar, ver, ouvir,
decodificar, compreender os distintos idiomas emitidos por entidades da
natureza.
·
Fotografar a área também com os olhos e perceber
sua conformação geofísica e geográfica.
·
Localizar possíveis afloramentos de água, identificar
e relacionar o tipo de vegetação ao redor de nascentes perenes ou intermitentes.
· Distinguir
espécies da flora e da fauna.
·
Questionar a prática de produção de alimentos em
áreas desprotegidas ou com escassez de águas.
·
Inquerir sobre formação de cortinas vegetais
contínuas ou corredores consorciados com áreas de produção.
SOBREVIVÊNCIA DA ESPÉCIE HUMANA
Os itens abaixo listados afetam de alguma
forma as relações de convivência entre as entidades da espécie humana e as
demais formas de vida. Erros e acertos são constantes. A interação e a
interdependência de todas a vidas são o ponto essencial para a preservação da
biodiversidade.
·
Circunstâncias, como fenômenos climáticos,
predadores múltiplos, podem pôr em risco a vida das pessoas, o acervo histórico
e cultural: casa, monumentos, jardim, pomar, horta, espaços de lazer.
·
Localização dos assentamentos humanos.
Substituição de florestas, desvios de cursos de água por cidades e equipamentos
facilitadores da atividade humana.
·
Água é o ponto essencial de referência para
todos os seres vivos. Nascentes, córregos, rios, lagos. Qualidade da água.
Acesso à água potável é desejável para todas as espécies vivas.
·
Área de coleta ou produção de alimentos de
autossuficiência ou troca e relação com o tempo de regeneração do ecossistema.
Sistemas existentes de compensação e regeneração do ambiente ocupado e
modificado, considerando que o tempo regenerativo não se mede em dias, mas em
anos ou décadas.
·
O habitat humano é também uma imposição da
natureza e uma decorrência natural para a sobrevivência e a reprodução das
espécies. Ninho, toca, abrigo fazem parte da intimidade de todas as formas de
vida para a reprodução e a sobrevivência.
·
Áreas possíveis de inundações ou de incêndios
(fenômenos naturais, chuvas, crescente de rios, vulcões) e suas
particularidades regionais do país merecem anotação especial.
·
Redução de riscos previsíveis para a vida em
razão de possíveis desastres inerentes à localização de pessoas e comunidades ─
inundações, períodos de estiagem ou secas prolongadas.
As relações sociais não têm como motivador
primeiro a solidariedade pontual num cataclismo ou manifestação extrema de
fenômenos físicos. Elas alimentam a solidariedade permanente e o aperfeiçoamento
social e cultural integrado ao ambiente com a possível e necessária convivência
entre todos os entes da biocomunidade.
TEMAS PARA ANÁLISE
A
ação humana (pegada ecológica) pode pôr em risco a saúde e a vida de uma
coletividade, de um país, de um continente, do planeta. Alguns cuidados podem evitar desconfortos,
vicissitudes e desastres, como proteção de mananciais, bosques, vegetação
nativa, lençol freático, áreas de recarga de aquíferos, perfuração de poços
artesianos ou tubulares, escolha de áreas adequadas para despejo temporário de
lixo séptico, detritos, plásticos, entulho de construção. A recarga limpa ou
suja de aquíferos depende da ação e da intervenção do ser humano no ecossistema
que o acolhe.
RIQUEZAS ANTROPOLÓGICAS
QUE RELATAM A HISTÓRIA HUMANA
Uma gama extensa de vestígios da caminhada
humana conta a história de seus dramas e tragédias ao longo de milênios. Cavernas,
inscrições rupestres, monumentos históricos ou naturais, árvores típicas,
refúgios florestais únicos e sensíveis, brejos, cascatas, belezas naturais são
preciosos canais de relacionamento entre as pessoas e entre estas e as demais
formas de vida.
INVASÃO E DESTRUIÇÃO DE ÁREAS VALIOSAS
QUE GEREM CUSTOS SOCIAIS DE RECUPERAÇÃO
E REGENERAÇÃO.
Mudanças estruturais com urbanização de encostas,
margens de rios, lagos e mananciais sem prévio estudo da constituição geológica
das áreas a serem ocupadas.
Habitat de vida nativa rara (Pantanal,
Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia) ou em extinção; paisagens, locais de
recreação potencial.
Proteção do espaço necessário para a vida
do bioma e da biota ─ vegetais e animais.
INTERDEPENDÊNCIA DE TODAS AS ESPÉCIES VIVAS
Um dos mais importantes aspectos da vida
no planeta é a interdependência de todas as espécies vivas que compõem a
biodiversidade para sua sobrevivência e reprodução na biocomunidade. Vidas se
alimentam de vidas para proteger a vida. Planejamento e controle inteligente da
reprodução da vida humana. O homo sapiens chegou ao planeta milhões de anos
depois das árvores. A sobriedade, a paciência, a lenta regeneração diante
calamidades ou fenômenos físicos naturais e mudanças climáticas podem dar o
ritmo da caminhada humana.
ORGANIZAÇÃO NATURAL DAS ESPÉCIES VIVAS
Preservação da auto-organização natural
das espécies vivas frente à organização social e cultural urbana e rural da
espécie humana.
O princípio da precaução da ação humana e
a pegada ecológica do passo e do ritmo da evolução do homo sapiens. No último
século, a pegada ecológica do homem destruiu mais que nos 10 séculos
anteriores. A regeneração de uma área pode provocar o aparecimento de espécies
temporariamente desaparecidas ou novas. O tempo da substituição das espécies
nativas por outras domesticadas (soja, milho) não é o mesmo da regeneração de
um bioma para recompor a fertilidade e garantir produção constante e
permanente. O tempo da natureza não é o tempo do relógio. Há que se examinar a
necessidade, a adequação e a conveniência de se introduzir máquinas no corpo do
ecossistema.
O princípio da precaução recomenda
prudência à ação humana ao interferir na organização natural das espécies vivas
e no amplo espaço dos ecossistemas.
·
O maquinário, a intervenção autoritária, o
desmatamento, a queima. Sabe-se que o arado foi a primeira agressão feita ao
solo indefeso.
·
Os fertilizantes químicos, os pesticidas
(agrotóxicos) se incorporam ao solo, à água, às plantas, à atmosfera e às
pessoas.
·
Educação e saúde estão afetadas pela modificação
do habitat vegetal, animal e humano.
·
Possíveis ações de cooperação entre a espécie
humana e as condições necessárias à preservação da água e da vegetação nativa.
·
Plantar árvores e proteger florestas é o grito
revolucionário deste século.
·
CONCLUSÃO
A Ecossociologia é um método ou caminho
alternativo para compreender o funcionamento da auto-organização da natureza e
integrar a espécie humana na sociedade complexa formada pela biodiversidade. A
natureza se expressa por meio de biomas e ecossistemas habitados por vidas
humanas e não humanas que interagem e interdependem para a continuidade da vida
em suas múltiplas formas de expressão. As decisões do homo sapiens serão mais
sábias se executadas com precaução e comedimento no tratamento e uso dos bens
comuns do ecossistema que o abriga na companhia permanente de outros milhares
de entes da biocomunidade. A cultura humana, sob as mais diferentes formas de
expressão, pode causar danos à biodiversidade se agir com atitudes e práticas
impositivas e autoritárias. A cultura multifacetada da espécie humana pode dar
o toque de sabedoria comunicativa ao conjunto de idiomas sutis da natureza em
defesa da vida.
REFERÊNCIAS:
MORIN, Edgar, O enigma do homem, Editora
Zahar, RJ, 1975.
SILVA, Agostinho, FIOLOSOFIA ENQUANTO
POESIA, Realizações Editora, São Paulo, 2019.
SANTOS, Milton, O espaço dividido, EdUsp,
São Paulo, 2008.
WOHLLEBEN, Peter, A vida secreta das
árvores ─ o que elas sentem e como se comunicam ─ Editora Sextante, São Paulo,
2017.
CARSON, Rachel, A primavera silenciosa, Melhoramentos,
São Paulo, 1964.
EHRLICH, Paul, The Population Bomb, Sierra Club, Kansas, EEUU, 1968.
WHAL, Christian Daniel, Design de Culturas
Regenerativas, Bambual, União Planetária, Brasília, 2019.
PORTO GONÇALVES, C. W., Os (Des)caminhos
do Meio Ambiente, Contexto, São Paulo, 1998.
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