domingo, 28 de agosto de 2022

REVISTA IDENTIDADES LUCIA HELENA

 

ÀPROCURA DA BRASÍLIA PERDIDA

REVISTA IDENTIDADES

Em edição especial por conter artigos exclusivamente do ecossociólogo Eugênio Giovenardi, fotografias de Evandro Torezan, o tributo a Brasília e o contributo ao seu bioma pelos artistas visuais Luiz Felipe Vitelli, Dionísio João, Valdério Costa, Nádia João e Gaia Aquarela, a Revista IDentidades 2022 aborda a Capital Federal e o Cerrado.

Ao completar 62 anos em 21 de abril de 2022 — inserida na “sociedade de riscos” que transforma em mercadoria tudo que toca e não deixando de ser uma versão moderna de Midas — a cidade sonhada por Dom Bosco e concretizada por Juscelino Kubitschek está, há tempos, sob riscos ecológicos do desmatamento, da crise hídrica e destituída de uma nova cultura não apenas no uso, mas na interação de todos os sujeitos do ecossistema.
Na concepção do projeto urbano de Brasília, faltaram propostas que garantissem, em simultâneo, a convivência humana com a biocomunidade e com a biodiversidade do bioma Cerrado, e, no ambiente compartilhado, a regeneração deste ecossistema.
A “ópera existencial” de Brasília, fundamentada sob a ostensiva realidade dos fatos, não se sustenta na interconectividade entre os seres vivos no meio ambiente do Cerrado. A ocupação dos espaços não preserva, não interage e não une a natureza à urbe.
O leitor perceberá que as decisões político-administrativas da cidade em nada contribuem para a convivência harmonizada entre ecossistemas e os serviços à população. De certo, sem vontade política há muito pouco lugar para a Capital da Esperança circunscrita apenas em sua área tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade. Reduzida a sua cidade-parque ao Plano Piloto. Desfalcada de um modelo de administração capaz de aprimorar e consolidar relações de convivência: habitantes/cidade/natureza.
E à medida que cresce desordenadamente menos se desvelarão os segredos milenares do Cerrado. O colar de satélites dependurado no pescoço do Plano Piloto pouco embeleza o Cerrado. Estrangula-o lentamente e o sufoca sem piedade.
O Cerrado está sendo tratado a ferro e fogo como o eram os escravos em outros tempos não tão distantes. Libertar o Cerrado é preciso! Destrui-lo é criminoso! O Cerrado não é apenas para a espécie humana. É, pois, o cenário generoso da biodiversidade que abriga humanos e não humanos.
O Cerrado não se comove com as loas poéticas que sobre ele se fazem em datas especiais. A velhice do Cerrado se remoça quando escutamos o silencioso rumor de suas nascentes, a cantilena serena de seus córregos cristalinos e quando reverenciamos sua beleza pura, selvagem, grandiosa. Milenar.

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