ARBORIZAÇÃO
As árvores são necessárias para preservar as nascentes de água. Onde se cortam árvores, produz-se deserto. Quando se cortam árvores, as águas diminuem e as nascentes secam. As nuvens de areia que assolam cidades do Brasil são claros sinais do desmatamento. Quando se protegem os mananciais e se plantam árvores, acaba-se com o deserto e as águas voltam. O deserto do Saara está sendo contido com uma muralha verde de 10 mil quilômetros de extensão - do Congo à Tanzânia.
A riqueza da vegetação original suprimida pelas cidades foi comprometida com nossa arborização artificial. As árvores são sempre belas e sempre imponentes por sua arte natural. Mas foram privadas de um conjunto harmonioso de outras vidas vegetais ou animais que compõem a cadeia trófica e o controle de predadores.
A resposta que a natureza deu, através do ecossistema, foi diferente do desenho arbóreo disciplinado. A natureza achou acertado fazer nascer as gramíneas, a vegetação rasteira. Propôs juntar pequizeiros, buritis, jatobás, ipês, sucupiras misturadas com caliandras, chapéu-de-couro, pau-de-leite e marcelas douradas.
Se a arquitetura moderna tem em seus princípios o compartilhamento com o ambiente, o desenho de uma arborização artificial e estética não deveria conflitar com os caprichos milenares da natureza. Burle Marx revelou esse mistério em sua arte ecológica premiada, no Rio de Janeiro. A poda sistemática de árvores é uma atitude de desrespeito autoritário de quem trata esses entes vivos como objetos insensíveis. Antes de plantar uma árvore é preciso conhecê-la, compreender a complexidade de seu entorno, o espaço que necessita e o solo que a alimenta.
O tema “poda de árvores” deve ser discutido antes de plantá-las. Retirá-las de seu espaço nativo para simples embelezamento, sem respeito aos requerimentos biológicos ─ solo e espaço ─ é uma forma de exílio arbóreo. Ninguém gosta de exílio. Todos os exilados, dia mais dia menos, são podados. Melhor evitar o exílio ou abrir espaço social respeitando a identidade do exilado. Temos mania de melhorar a natureza e ensiná-la a produzir rosas.
(Trecho do livro À PROCURA DA BRASÍLIA PERDIDA, 2022, de minha autoria)
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