sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CÂMERAS DE VIGILÂNCIA


 

A paranoia tomou de assalto a liberdade de ir e vir do brasiliense. Há ladrões, assaltantes, sequestradores e drogados em cada esquina.
Mas, contra todas as expressões de medo das pessoas entrevistadas, vítimas ou não, de que não se pode mais sair à rua de dia ou de noite, os bares e restaurantes andam lotados.
As filas nos bancos e caixas de supermercados são cansativas e irritantes.
As agências de automóveis nunca venderam tantos carros alvos de sequestradores.
Os shoppings borbulham de curiosos e consumidores compulsivos.
Os estacionamentos, em qualquer ponto da cidade, não oferecem vagas e o papel dos desempregados é alinhá-los em filas duplas, triplas ou quádruplas.
Mesmo que o Distrito Federal seja palco de vinte assaltos por dia, ainda assim nosso sistema de vigilância, proteção e repressão se revela falho, ineficaz, ineficiente e sem competência social. A população do Distrito Federal (2,6 milhões), toda a organização burocrática do governo com suas dezenas de secretarias, polícia civil e militar, empresas de vigilância privada, zeladores e porteiros de prédios são dominados diariamente por 20 meninos e adolescentes, gênios da astúcia, da argúcia e do destemor.
A solução tecnológica proposta é a câmera vigilante como detetive auxiliar para localizar o ladrão depois do roubo executado. Onde estão as câmeras? Nos bancos, nos hotéis, nos shoppings, nos hospitais privados e outros logradouros onde se concentra o dinheiro. Câmera, portanto, é um chamariz.
O síndico de meu bloco decidiu agregar câmeras fotográficas à vigilância precária do vigia noturno e da presença inócua do porteiro. A câmera é um indicativo de que existe algo a ser protegido e, portanto, um sinal de possível interesse de assaltantes virtuais. Há carros novos estacionados e dentro deles sofisticados e tentadores aparelhos.
É preciso saber para que serve a câmera e para quem. Para o assaltante ou para o possível assaltado? Em todos os casos, há uma dúvida e uma certeza: a possível prisão ou apreensão do assaltante e o trauma doloroso do assaltado.
Enquanto as câmeras apenas fotografam o cidadão que passa e o assaltante que rouba, a paranoia aumenta por medo dos 20 jovens infiltrados na vida cotidiana de 2,6 milhões de brasilienses.
Parece que o buraco é mais amplo e mais embaixo onde as câmeras não alcançam. Quem se dispõe a descer até suas profundezas?
Ofereço uma corda: antigamente falava-se em justiça distributiva que ia da educação ao trabalho digno. Hoje, apregoa-se o crescimento econômico sustentável baseado no consumo.

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