quarta-feira, 29 de junho de 2011

DÍVIDAS E DÚVIDAS ECONÔMICAS


Pedro de Montemor, fascinado pela gente criativa de Cascalheira, enviou ao senhor Mantega, ministro da fazenda, uma questão econômica sem precedentes discutida nessa localidade. Cascalheira é um vilarejo pobre, plantado num entroncamento de vias que ligam Brasília a Goiânia, Belo Horizonte e Belém. Situado na fronteira do Distrito Federal e Goiás, o povoado é pobre, mas passa por ele o grande comércio rodoviário, contrabando e drogas. Se faltar crack nos bairros vizinhos, Cascalheira supre os pedidos de urgência. Metade da população está desempregada e a outra metade se vira como pode. Pendura contas na padaria, no açougue, no mercado. As meninas de 13 anos engravidam de graça e as prostitutas oferecem serviços a crédito.

Um traficante, despachado para entrar nos estoques guardados em Cascalheira, disfarçado de empresário se dirige ao hotel despretensioso numa rua sem asfalto. Deixa uma caução de cem reais à recepcionista e pede para inspecionar os quartos.

O dono do hotelzinho pega depressa o bilhete de cem e corre ao açougue pagar o que deve. O açougueiro mandou o filho ao abatedouro clandestino a liquidar a dívida dos porcos comprados. Criador de porcos, o dono do abatedouro pediu à mulher que fosse à agropecuária quitar a fatura do milho e da ração do mês passado. O dono da agropecuária foi à oficina mecânica saldar a dívida de umas peças da caminhonete.

O mecânico aliviado voltou ao hotel com a nota de cem e pagou a diária do quarto onde passara a noite com uma rapariga de Goiás. Nesse momento, o traficante desiste de se hospedar no hotel por falta de segurança ao ver um carro da polícia rondando as ruas. Desculpa-se, agradece, retoma o bilhete de cem reais e sai de mansinho.

Na Cascalheira, a gente vive sem dinheiro e sem dívidas e com uma estupenda confiança no futuro. Descobriu-se o segredo da economia: dinheiro parado não circula.

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