sexta-feira, 1 de julho de 2011

O PODER DOS DELINQUENTES

Josimar, antes da alcunha que lhe coube – Batata – nascido na periferia da Samambaia, frequentou os quatro primeiros anos de escola. Gostou da rua. Não voltou às aulas. Como um milhão de outras crianças teria tido chance de ser jogador de futebol ou trabalhador de salário mínimo. Dependeria de vagas às suas habilidades polivalentes como bom brasileiro. Enquanto a vaga não aparecia, Josimar vagava pelas ruas e, um dia, foi preso em flagrante de roubo numa padaria. Passou duas noites na DP 52. Apanhou de cassetete, assinou a ocorrência e foi solto por falta de vaga. Já na rua, com fome e medo de apanhar do pai, não voltou a casa. Ficou matutando encostado a uma parede pichada: não tem vaga na construtora do bairro e não tem vaga na delegacia.
Meses depois, Batata foi apreendido com a quadrilha que roubava aparelhos de som em carros e celulares de idosas distraídas em compras na feira ou na fila do caixa do supermercado. Levados ao presídio de Ceilândia, lá foram recusados por falta de vaga. No camburão, esperaram resposta da cadeia de Águas Lindas. Negativo. “Joga eles pra São Sebastião”, disse uma voz pelo rádio. Ao chegar ao presídio de São Sebastião com as 90 vagas ocupadas por 170 apenados que se amontoavam nas celas, o delegado com voz debochada e um muxoxo de lábios perguntou: “Cabem mais quatro”?
O crescimento da “demanda” por vagas nos presídios supera em 200 mil as existentes. A indústria de presídios não responde com a mesma eficiência das montadoras de automóveis o suprimento da demanda. O poder de pressão da demanda dos delinquentes está a exigir a pronta oferta de vagas nesses condomínios penais que, segundo cifras oficiais, custam por ano ao erário dois bilhões de reais, R$ 4.166 por condômino. Enquanto o Bolsa Família subsidia os miseráveis da pátria com R$ 920 por pessoa/ano.
A demanda insatisfeita dos delinquentes pôs o governo contra a parede: ou cria mais vagas com modernas e confortáveis cadeias ou libera vagas soltando metade dos presos. Por enquanto, o governo vai liberar 100 mil vagas, insuficientes para satisfazer a crescente demanda diária que pipoca em todo o país. Está planejando, com a lentidão conhecida, a construção de 398 presídios. Os 480 mil presos (0,25% da população) são uma minoria poderosa. Minoria que constitui uma demanda ativa polivalente. Vai da cocaína pura ao crack barato, do assalto a joalherias aos caixas eletrônicos de bancos, do sequestro relâmpago às cargas de caminhões. Isto requer abertura de vagas para uso contínuo. Enquanto a prioridade do governo está voltada à construção de estádios de futebol, os novos presídios previstos terão vagas limitadas, só disponíveis mediante reserva antecipada e pagamento de caução.
Pedro de Montemor, com quem discuto esses magnos problemas da brasilidade, é de opinião que muitos delinquentes poderão mudar de profissão para obter melhores favores a suas organizações. Uma delas seria tornarem-se políticos, banqueiros ou donos de seguradoras de saúde. Outros optariam por construir seus próprios presídios como o fez Pablo Escobar na Colômbia.
Estamos em época de terceirização de aeroportos para atender à pressão da nova classe média e dos torcedores de futebol. Por que não entregar a construção de cadeias de segurança máxima ao Fernandinho Beira Mar ou aos engenheiros do PCC? Eles abriram vagas preferenciais aos aloprados de Presidência da República, aos mensalões do Congresso Nacional, aos negociadores da Caixa de Pandora, aos sócios de outras organizações criminosas ligadas a bancos, à Receita Federal, ao INSS cujos suspeitos são dotados de contas bancárias milionárias, no país e no exterior, capazes de pagar uma prisão confortável, decente, digna e perpétua.

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