No Brasil, se mente a grandes e a pequenos. Mentem os presidentes acobertados por estatísticas, ou quando dizem que nada sabem do que se passa dentro da própria casa civil. Mentem os ministros quando dizem que já foram tomadas as providências cabíveis. Mentem os funcionários aos chefes e aos jornalistas. Sobre a merenda escolar, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, pela voz de seu presidente, assessores, coordenadores e diretores da Escola Classe 304 Norte, em Brasília, com requintes de mentira televisionada enganaram a esposa do Secretário Geral da ONU.
A Escola Classe 304 Norte é modelo do que se deveria fazer em todas as escolas do país. Parte dos ingredientes da merenda escolar é produzida na horta do educandário. Essa prática elogiável não representa a situação das demais escolas do Distrito Federal. Das 560 escolas públicas, talvez dez, se tantas, produzem alguns alimentos para a merenda escolar. A compra de ingredientes para a merenda escolar é uma fonte de descaso e corrupção amplamente conhecidos no país. O que se mostrou à ilustre senhora da ONU foi um protótipo experimental, um fato isolado do conjunto subsidiado pelo Fundo Nacional e, com base nele, foi transformado pela malandragem burocrática em “paradigma para o mundo”.
As explicações de assessores e coordenadores do FNDE envergonham quem conhece a qualidade da merenda servida nas escolas do DF e do resto do país. Que paradigma é esse para ser copiado pelo mundo? Nossa malandragem sabe enganar ilustres visitantes que nos abordam sem informações prévias e o faz com categoria. Ninguém percebe em que gráfica foram impressos nossos cartões de visita. Todo mundo finge acreditar que daquele chapéu saem dezenas de coelhos.
O mais espetacular é ver no rosto do funcionário a seriedade e a convicção dos apadrinhados políticos que exercem o poder de informar. Seria inimaginável que um comissionado do governo, cujo mérito é pertencer ao seleto grupo de cabos eleitorais, mostrasse à esposa do Secretário Geral da ONU a verdadeira merenda escolar servida no Centro de Ensino Fundamental da Agrovila Engenho das Lajes, a 50 km do Palácio do Planalto. Lá encontraria o paradigma dessa atividade incluída no desenvolvimento educativo. Outra seria a impressão da ilustre senhora.
Não há que estranhar se, amanhã, o ministro da educação da Etiópia ou da Somália vier, a convite do Itamarati, apreciar o paradigma da merenda escolar brasileira na Escola Classe 304 Norte do Plano Piloto da cidade mais bem paga do Brasil.
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