sábado, 18 de junho de 2011

MINHA QUERIDA

Os cacoetes da amabilidade assumidos pela linguagem de tratamento expressam a sutil hipocrisia da alma brasileira. O que se esconde por trás desses biombos delicados, amaneirados e cordiais nem sempre é revelado no cara a cara.
– Dulcimar, meu bem, seu chefinho está?
– Xavier, meu querido, ele acabou de entrar numa reunião,
– Preciso falar com ele, urgente. É aquela licitação, minha querida.
No dia seguinte.
– Dulcimar, minha rainha, consegui os parceiros que seu chefe sugeriu. Ele está?
– Um momentinho, meu anjo.
– Grande chefe! Como é que vai essa força?
– Agora bem melhor. É uma honra ouvi-lo.
– Aqueles detalhes foram resolvidos. Tudo dentro da lei.
– Você não existe, Xavier. Amanhã a gente se fala, no Bar Boteco.
– Dulcimar, minha pérola, corta esses telefonemas do Xavier. Ligo pra ele do meu celular.
– Entendo, chefe. Faço o que posso. Ele é um carrapato. Não desgruda do telefone.
– Está bem, minha querida, mas você sabe por quê.
Três dias depois.
– Dulcimar, minha princesa, posso dar uma palavrinha com seu adorável chefe?
– Meu amor, ele foi chamado ao gabinete do ministro. Ele te liga no celular.
– Essa sem vergonha não quis me passar o Sarmento, disse Xavier ao sócio. Ela tem cara de ....Não me engana.
– Consegui despachar o Xavier, disse Dulcimar ao chefe. Ele está se tornando inconveniente.
– Deixe, meu bem. Eu trato daquele safado lobista.

Nenhum comentário: