terça-feira, 7 de junho de 2011

EXTREMA POBREZA

Louve-se a presidente Rousseff pelo anúncio de lançar um desafio para retirar da extrema pobreza 16 milhões de brasileiros. Com trezentos anos de atraso, insurge-se o governo contra essa escravidão disfarçada de extrema pobreza. Que não seja um ato determinado pelo medo da insurreição imprevista dos chamados excluídos. Até onde irá esta proclamação de libertar os escravos da moderna economia?
O que é extrema pobreza? Divergem as interpretações e abundam as definições. Só sabe o que é extrema pobreza quem está nela, mas ninguém lhes perguntou. Quem está nela? A resposta fulminante foi dada por quem nunca passou perto dela. O limite da extrema pobreza está determinado pelo valor mínimo da renda que é de R$ 70,00 por mês. Isto, em palavras miúdas, quer dizer menos de R$ 3,00 por dia. Pés no chão, roupa rasgada, barriga d’água, farinha com rapadura, casa de barro, lata de água na cabeça, escola sem carteira, filas de hospital, voto de cabresto. Tudo isto será abolido com a libertação dos escravos modernos?
Por que estão esses brasileiros na extrema pobreza? Várias características foram identificadas nessa população. São analfabetos, negros, afrodescendentes, nordestinos, sem-terra, expulsos do campo, marginados nas cidades. Por essas falhas históricas, 16 milhões de cidadãos ganham menos de 70 reais por mês, não sendo possível alimentar-se saudavelmente com essa quantia. Para libertá-los da extrema pobreza, isto é, para lhes permitir comer mais, o governo propõe incluí-los no Programa Bolsa Família, dando-lhes um subsídio R$ 20 por pessoa o que lhes aumenta a diária para três reais. É mais que antes e mais que nada.
Matematicamente, esse pequeno subsídio retira 16 milhões da extrema pobreza. Se for verdade, é um feito digno de elogios. Por que não se fez isso antes com tanto dinheiro engolido por inúmeros ralos desde a presidência, passando pelo Congresso Nacional e expandindo-se por 37 ministérios, sem contar roubos e sonegação de impostos?
O que não se pode entender é como a presidente Rousseff tolera na Casa Civil um ministro deputado que amealha 20 milhões para dar bons truques e dicas a empresários e não sugeriu ao antecessor Silva medida tão singela.
Para avaliar melhor o que é extrema pobreza, à luz da matemática governamental, compare-se o ganho de um assessor parlamentar que faça refeições num self-service de preços módicos e de um recém-retirado da extrema pobreza. O assessor parlamentar pagará pela refeição um preço em torno de R$ 15,00. O que saiu matematicamente da extrema pobreza terá três reais para pôr no prato quantidade cinco vezes menor. Provavelmente, os três reais não pagam a sobremesa do assessor parlamentar. O estacionamento ao redor do restaurante comunitário da Samambaia (Brasília,DF), que serve refeições a um real, ao meio-dia, está lotado de carros.
Sem dúvida, as próximas estatísticas do IBGE ou do IPEA nos dirão que alguns milhões das classes E e D subiram para a C; que a desigualdade entre essas classes diminuiu e que a renda dos mais pobres aumentou mais do que a dos mais ricos. Cinismo estatístico.
Estamos falando de pobreza matemática, de 16 milhões de brasileiros e mais R$ 320 milhões de reais por mês no aumento do consumo de bens, que atiçam a indústria e engordam o PIB. Os outros aspectos que envolvem a pobreza extrema, a ser libertada gradativamente para não pôr em risco a robustez da economia e a tranquilidade dos investidores, dependem dos 37 ministérios ao longo dos próximos cinquenta anos.

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