sexta-feira, 3 de junho de 2011

SUA MAJESTADE MARIA I

Patriotas de todo o Brasil, eleitores de todos os matizes políticos, cidadãos de todas as opções religiosas e convicções sexuais, contribuintes dos mais imperceptíveis impostos, súditos honestos e contraventores das leis da república lembrem-se que este país já foi governado por uma rainha louca, Sua Excelentíssima Majestade Maria I, falecida em março de 1816, no Rio de Janeiro.
O Brasil Colônia de exploradores, o Brasil reinado de perdulários, o Brasil Império de dois Pedros e, agora, a república da impunidade já passou por vicissitudes sem conta. Não será um Collor destituído, um Sarney acidental, um Delúbio mensalão, ou um Palocci imobiliário que alterarão o sono do “gigante deitado em berço esplêndido”. Se este país pôde consolidar seu imenso território e deixar no analfabetismo sua população durante séculos, importar escravos, eliminar nossos primeiros habitantes, “civilizá-los e cristianizá-los” e derrotar o Paraguai, nada temos, hoje, a temer. Se o país não foi abocanhado por ingleses e holandeses, mesmo com uma rainha louca no poder, trancada no Palácio da Quinta da Boa Vista, doado ao regente D. João VI por Elias Lopes, o maior traficante de escravos da época, não há porque temer a narcoinvasão de drogas e a expansão do terceiro sexo.
Temos história. Não são esses míseros 20 milhões do ministro Palocci que afetarão a autoridade da sucessora de Sua Majestade a rainha louca Maria I. Somos um país grande, esquizofrênico, futebolístico, carnavalesco, generoso e cordial. Se já tivemos uma rainha louca, todos os demais governantes, presidentes, ministros, deputados e senadores serão tolerados com paciência, cinismo, ironia e alguns palavrões. Chegamos ao cúmulo da complacência de ouvir mentiras crassas como se fossem verdades indiscutíveis. De presenciar a negação de fatos escancarados e aceitar o diagnóstico de sofrermos de ilusão ótica.
Patriotas de todos os times de futebol, quem já foi governado por uma rainha louca não pode estranhar este cenário de manicômio que ora contemplamos.

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